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[GSK] O relaxamento necessário diante do desconhecido

Aula ministrada por Gurusangat Kaur Khalsa em 8 de fevereiro de 2019


[GSK abre a aula]


Restaurar o sagrado é uma consequência do que conversamos na aula passada. O que vimos foi que precisamos de uma visão do infinito que nos retire da “entorpecência” – nem sei se esse nome existe. Falamos do ópio. Dessa tradição que foi embutida em nós, culturalmente, em que nos entorpecemos para fugir da realidade que algumas vezes é muito dura.


Consideramos duas formas dessa “entorpecência”. Uma delas é agirmos como vítimas. Apegarmo-nos à única forma da realidade possível, que é aquela que sentimos: a realidade imediata.


No curso de formação, especialmente no nível II, o Yogi Bhajan fala de um conceito radical sobre a comunicação consciente. Ele afirma que a comunicação consciente não se relaciona com aquilo que sentimos, nem com aquilo que sabemos, tampouco com aquilo que queremos. Ele acaba conosco! Comunicação consciente não é nada disso. É comunicar compreendendo o outro. Isso é um rasgo nos pasquins da psicologia, das auto-ajudas e de tudo.


O que é o outro para nós? É o desconhecido. Portanto, comunicar a partir de conhecer o desconhecido. Isso é muito intenso e bonito porque não temos condição de conhecer o desconhecido. A única coisa que podemos conhecer no desconhecido é a relação que estabelecemos com ele. A aula de hoje é para vermos como vamos conhecer esse desconhecido.


No nosso mentoring, no grupo de professores treinadores da Academia, tenho levado um tema para trabalharmos que é o mesmo que tenho trazido aqui e nas palestras com as corporações. Em um artigo da revista de Harvard do mês de novembro passado está escrito assim: “O ego é o inimigo da boa liderança”. Tem um outro livro que os cursos de MBA da Fundação Dom Cabral e do Anima estão estudando que chama: “Liderando a partir de um futuro que emerge”. Pensem nesse título. Esse futuro que emerge é conhecido? Não. Porque ele não emergiu. Então, como liderar a partir de um futuro que emerge?


É por isso que nós, do Kundalini Yoga, podemos trabalhar com essas grandes companhias. Nós sabemos fazer isso. Para fazer isso precisamos organizar os nossos vayus. E precisamos compreender que intuição é técnica, é treinamento. Não é dom divino. Do mesmo jeito que podemos desenvolver músculos, podemos desenvolver a intuição. A base para o desenvolvimento da intuição está nos vayus, que são aquelas casas de Prana. Para trabalharmos isso temos que começar pela base.


O desconhecido nunca é relaxante o suficiente para nós, porque é sempre uma ameaça. Ninguém aqui é melhor que ninguém. Guru Nanak dizia que ninguém está acima e ninguém está abaixo. Todos padecemos desse desconforto diante do desconhecido. Esse é um fato. A forma como podemos melhorar a nossa relação com o desconhecido é desenvolvendo tanto uma capacidade de destemor para encará-lo na medida em que ele emerge, quanto a intuição, para sabermos o que vem adiante.


Hoje vamos falar desse preâmbulo que nos permite não precisar entorpecer, fugindo como a vítima da realidade ou virando o ativista da realidade, o algoz.


Aluna: É a segunda forma?


GSK: Sim, a segunda forma é agirmos como algozes.


Kundalini Yoga é bonito demais porque faz muito sentido. Conseguimos realmente compreender isso. Não existe só a vítima. Seria injusto, porque a vítima é uma polaridade do algoz. A vítima é aquela que foge e fica presa a sua própria realidade. Ela fala a partir do que sabe, do que sente e do que quer que seja a realidade. No curso “Mente e meditação” vemos o tanto de filtros que temos para filtrar a realidade.


O algoz é o militante do infinito. Ele não fala a partir do que sente, crê ou quer que seja, mas fala a partir de uma pretensa ideia de conhecimento de tudo. A militância para a restauração do sagrado é tão perigosa quanto a vítima do sagrado. Porque nas duas condições nos excluímos da realidade. E a intuição vai pro saco.


Para compreendermos tudo isso temos o recurso do kriya e os mapas. Os yogis não tinham tempo de criar mapas porque eles próprios estavam muito mais reclusos da realidade do que se possa imaginar. Eles estavam fazendo aquilo que estavam fazendo até o Guru Nanak chegar e lhes dizer: “Acordem! Saiam desse buraco! Saiam da caverna! A vida está acontecendo aqui fora. Deem um testemunho da inteligência de vocês aqui fora!” As pessoas que fizeram os mapas são os professores. Somos nós, representados por eles, lá.


O mapa que vamos trabalhar esse semestre é o dos sete passos da felicidade. A aula de hoje é para os vayus e o tema é o relaxamento interno diante do desconhecido, para que possamos captá-lo antes que ele chegue muito próximo.


Kriya: Equilibrando os Vayus, do manual do Proprietário do Corpo Humano


Meditação: Shabad Kriya, para dormir, amar e lutar melhor


Uma das melhores técnicas que temos para restaurar o sagrado é o Sat Nam Rasayan, porque não há nenhuma interferência. Nos colocamos a serviço, abertos, e permitimos. É uma técnica fabulosa que nos tira do protagonismo. Somos parte da história e apenas entramos no campo, como todas as outras coisas. Temos valor igual, sem distinção. Não é uma técnica de projeção da intenção, muito usada por nós. Existe uma humildade. E todos os elementos, os bons e os ruins, têm o mesmo peso.


Como o Gurudev fala – talvez o Ambrosio, porque o Gurudev não fala muito –, existem lugares muito inéditos por onde o sagrado vai ser restituído. Às vezes, pelo cotovelo. Quem poderia dar qualquer razão para o cotovelo, a não ser quando ele dói?


[...]


Um ano antes de terminar meu doutorado na Alemanha, um casal que havia me acolhido resolveu me dar o presente de ir junto com eles para o Caribe. Eu não podia imaginar quando teria dinheiro para ir para o Caribe. Achei ótimo! A mulher é a Dagmar Schutz, a diretora que colocou o filme da Audre Lorde para correr o mundo. Ela disse: “Vamos ficar na casa da Audre Lorde”. Audre era uma poeta muito importante, uma ativista, que já tinha morrido. Quem vivia nessa casa era sua mulher, a Gloria, que hoje tem 93 anos e na época já era uma senhora.


Era uma casa linda em Saint Croix, uma das ilhas do Caribe. A casa tinha uma piscina, a dois quarteirões do mar, e um dia fomos todos nadar. Fazia muito calor, estávamos adorando aquele negócio. Caí na piscina e dei um “de ponta”. A Gloria, surpresa, perguntou: “Você sabe dar de ponta?”


Quem não sabe dar um “de ponta” no Brasil? Muito engraçado isso! Nos Estados Unidos “dar de ponta” tem que ser aprendido, é preciso fazer a aula técnica. Virei uma heroína porque dava “de ponta”. Ela propôs: “Amanhã você vai ensinar todo mundo a dar de ponta!”. No dia seguinte o cara que limpava a piscina a esvaziou pela metade e não avisou. Cheguei toda entusiasmada para ensinar todo mundo. Disse a todos: “Vou fazer primeiro para vocês entenderem”.


Pulei e caí com a cabeça no meio da piscina. Mas não foi tão ruim porque, nos nossos “de ponta”, de pivete que aprende a pular no rio, pulamos com os braços esticadinhos. Quase quebrei os dedos no fundo, levantei os olhos, zonzinha, e a Gloria queria checar se eu estava consciente. Ri demais!


Foi uma das férias mais horríveis que tive na vida! A Dagmar e o marido entendiam que férias eram maratona. Talvez seja um problema de alemão. Eles têm uma necessidade de fazer tudo, porque tem sol e mar, coisas que eles não têm. A Gloria dizia: “This is not a holiday, this is a marathon!”. Levantávamos, íamos à praia, andávamos de caiaque, voltávamos... era assim!


Um dia a Dagmar, que é 20 anos mais velha que eu, falou: “Hoje vamos de caiaque da costa até aquela ilha”. Eu olhei até lá e pensei: “Ainda bem... é pertinho!”. Gente, no oceano nada é pertinho! No caminho eu dizia: “Dagmar, que loucura que é essa? Isso não chega!”. Enfim, chegamos à ilha, depois de umas duas horas de caiaque. Estava exausta e ainda tínhamos que voltar! Foi horrível!


Me cansei daquele povo doido! Estava começando a me interessar por Ayurveda e tinha umas fitas cacetes do Deepak Chopra. Nessa época eu já fazia Kundalini Yoga e minha sadhana foi atravessar a ilha e ficar sozinha do outro lado, sem aquela maratona toda. Ouvir o Deepak Chopra e contemplar. Fiz minha mochila e saí de casa às 4h15 da manhã, atravessei a ilha. Às 5h começou o alarme de um furacão, e eu andando na rua...


Fui para o outro lado da ilha, deitei e pensei: “Que maravilha! Que silêncio! Olha esse mar, uma banheira...”. Tudo estranho, só que eu não estava sabendo. Pensei: “Agora é hora de nadar”. Entrei no mar, aquele areião. Pensava que só em Copacabana tinha esse areião! Quando estava nadando, olhei para o horizonte e vi que havia uma marca amarelo-enxofre. “Tem alguma coisa esquisita. Isso não é normal. Enxofre! Eu nunca vi esse negócio antes”. Tentei sair da água e não consegui. Veio uma caminhonete. O cara parou e gritou comigo. Gritei de volta: “Help! Help!”. Ele entrou na água com aquela caminhonete de americano fodona, sabem? Jogou uma corda, me xingou toda, de tudo que vocês possam imaginar. E eu: “O que está acontecendo?”


Tinha um furacão chegando! Ele me disse: “Respeita o rádio e vai embora!”. Não me levou em casa. Fui indo embora, o vento me levava. Cheguei em casa toda arrebentada. Todas as janelas e portas já costuradas, o pessoal no porão, eu não sabia se tinha alguém lá... Ainda bem que isso tudo foi só o rabo dele. O furacão não chegou. ­­Mas foi horrível. Não se preocupem, porque tudo pode ficar ainda pior.


A Dagmar Schutz chega em BH no final de maio e vai estar aqui com a comunidade da Cultura Alemã para apresentar o vídeo dela com legenda em português. Quem quiser ver os anos de Audre Lorde...


Foi ela que me ensinou uma das coisas mais maravilhosas que é uma comida, uma pasta de passar no pão. Você pega uma porção de missô, com duas porções de tahine. Mistura e adiciona água. Pode colocar limão e as ervas que quiser. É excepcional para eliminar radioatividade do corpo e toxinas de partículas que ficam no espaço. Essa pasta foi dada a Audre nas clínicas da Suíça onde ela fazia tratamento de câncer pós radioterapia. É uma delícia! Substitui as dracenas, que são plantas que limpam o ar de toxinas. Toda casa na Alemanha tem uma dracena no quarto. Essa pasta é maravilhosa e foi um presente da Audre pra mim.


"May the long time sun shine upon you..."


[Transcrição: Tarkash Kaur]




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