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HUMANOLOGIA

A ciência da psicologia aplicada

ROBE DE FOGO NO CASTELO DE GELO

A louca travessia por shakti pad

por Dra. Gurusangat Kaur Khalsa 

 

Conta-se que Lord Shiva se apresentou a Deus em sua melhor e mais exuberante forma. Um yogi sem qualquer sombra de dúvida, na sua mais harmoniosa e bela projeção.

 

Ele então disse a Deus que via muito sentido em sua vida, embora muitas vezes a vida mesclasse momentos de profunda calma e tranquilidade com momentos de tormentas, dores e incertezas internas. Mas, dizia ele, no todo, valia a pena estar vivo, e a vida era simplesmente um presente mágico, era maravilhosa!

 

Em seguida a esse relato pungente e real, ele pede a Deus para lhe mostrar o resto do seu reino, aquela parte que certamente tinha encantos incontáveis e que ele ainda não conhecia. Deus pondera por alguns instantes, reluta e diz: “Olha, melhor não. Não vale a pena. Você já tem tudo que precisa aqui”, mas Lord Shiva insiste. Não querendo negar um pedido a esse belo yogi, Deus lhe abre a porta para o que ele ainda não conhecia - Maia - e ele fica maravilhado!

 

No momento em que entra em Maia, Lord Shiva vai pouco a pouco enlouquecendo e se emaranhando em todos os sedutores chamados de beleza e prazer. Rodopiando e dançando como um louco, ele vai se perdendo em Maia.

 

Existem duas grandes forças cósmicas, com paralelo na física newtoniana, que controlam esse tênue e delicado equilíbrio entre o céu e a terra. Essas forças são Maia (gravidade) e Consciência (campo eletromagnético). Nós nos colocamos no firmamento da vida, imersos em Maia e gravitando nossa atenção no cosmos. Visitamos o planeta Terra para realizarmos nosso destino, por isso Guru Nanak chamava aqui de Dharamsala - a Sala do Dharma, mas sempre sustentados pela lembrança da nossa origem, o Infinito incomensurável de Deus. Quando esse equilíbrio dinâmico é rompido, tanto pelo excesso de Maia quanto por um excesso de éter, temos uma ruptura muito forte da nossa identidade. A história de Lord Shiva ilustra muito bem o que conhecemos por Shakti Pad.

 

Shakti Pad é o teste da relação entre nosso céu e nossa terra. Há muita pressão e desconforto, e somos colocados diante dos delírios do ego, que criam convincentes intrigas sobre nós mesmos e sobre os outros. A dúvida e a dor vão se instalando lentamente, proporcionalmente ao tamanho do nosso ego. Nessa direção, o sentimento de vítima é condição inerente ao processo. O mundo todo está errado, e eu estou certo. Os céus me lançam rajadas de fogo e vento, mas a terra, com seu colo quente, me acolhe dessa tormenta e me protege. Esse teste é duro para um adulto, mas é o teste de nossa envergadura espiritual. Ou seja, aquele ser humano que mantém, em meio à duvida, o equilíbrio entre o prazer e a dor. Se o ego vence, vence Maia, e ele se torna um adulto infantilizado por suas crenças e pela cultura que o acolhe. Se o espírito vence, ele recobra a visão da alma, e empunhando valores, ele recruta coragem e atravessa as paixões que o confundem. É um momento semelhante ao que passa o adolescente que demanda toda atenção, quer todos os privilégios, e rejeita qualquer compromisso, pois tudo isso lhe parece uma prisão.

 

A visão de um adulto em Shakti Pad é a mais dura para um professor. A pessoa esfria o coração, soterra o respeito, viola a si mesmo, perde o juízo e se corrompe. É uma visão patética. Vestindo robe de fogo, ele entra em seu castelo de gelo. É um tempo onde tudo parece estar suspenso. Apenas a oração de quem ama e conhece parece ter alguma utilidade.

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