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[GSK] Quando nos esvaziamos o universo preenche

Aula ministrada por Gurusangat Kaur Khalsa em 21 de junho de 2019


[GSK abre a aula]


Vocês já assistiram “Chernobyl”? Tem muitos paralelos interessantes com o acidente da Vale, guardadas as devidas proporções. Toda essa história da manipulação da informação. Chernobyl foi uma coisa absurda. Durante cinco dias a usina ficou emitindo radioatividade sem controle, porque os russos negavam que havia ocorrido um problema. Isso significa duas bombas de Hiroshima saindo no ar a cada duas horas. Essas tragédias máximas, de grande repercussão, acabam trazendo uma virada de várias coisas. O muro de Berlim caiu em 1989, três anos depois. É um documentário muito significativo, recomendo demais que assistam. Foi produzido por um grupo de ativistas que esperaram quase trinta anos para poderem colocá-lo à vista.


Quando ocorreu o acidente de Chernobyl em 1986, estava de saída do Brasil para a Alemanha para fazer meu mestrado. Estive nessa situação com eles por seis meses. Logo depois houve a queda do muro de Berlim, que resultou numa virada imensa na cultura global e também na minha cultura pessoal. Nenhuma tragédia vem sem um grande propósito, na medida em que não nos colocamos como vítimas. Foi incrível estar em Berlim naquela época. A primeira mudança que me aconteceu foi ter que fazer uma escolha do que ia comer, porque tudo estava contaminado. No supermercado na Alemanha, com todo aquele preciosismo, constava na etiqueta do alimento a quantidade de radioatividade que ele continha naturalmente e a quantidade que ele tinha naquele momento. Assim: “naturalmente tem 5 Bq, atualmente está com 1.580 Bq”. Num determinado momento os alemães entraram em pânico. É uma coisa muito louca uma pessoa saber que está se matando. O governo, para evitar uma histeria, deixou de publicar estes dados.


Encontrei os orgânicos em Berlim nesse período e tomei a decisão de me tornar vegetariana. Uma das grandes viradas da minha vida foi isso: uma Uberlandense, filha de fazendeiro, que vira vegetariana. Outra virada na minha vida nessa época aconteceu quando descobri grupos que provavam que a água não podia ser fluoretada e o quanto aquilo era um desastre. Existia no Brasil um movimento muito forte do PT, do qual eu era fundadora, de introduzir a fluoretação das águas como uma política. E era um chamado da esquerda. Parecia uma bandeira da esquerda, quase que histérica. O Brasil foi um dos poucos países que fez a loucura de botar flúor na água. Aquilo era um despautério: envenenar a água para colher um benefício apenas nos primeiros anos de vida e ter uma população inteira envenenada para o resto da vida.


Saí daqui uma e voltei outra. Quando retornei ao Brasil me posicionei politicamente contra a fluoretação das águas e meu departamento na faculdade quis me expulsar. Há um momento de virada na vida pessoal que nunca é sem um embate no círculo mais íntimo. Nunca é algo que as pessoas aplaudem ou compreendem. Mas essas catástrofes nos fazem mudar, e se pegamos o fluxo de consciência que vem com elas podemos fazer escolhas e lutar por elas. Como também temos a chance de apoiar aqueles que fazem uma escolha de mudança de vida num momento desses de catástrofe. Escolhas marcadas por decisões muito legítimas e bastante custosas em vários sentidos.


Outra notícia que tenho para compartilhar é que saiu uma lista de habilidades para 2020 do Fórum Econômico Mundial: pensamento crítico, criatividade, gestão espiritual, inteligência emocional, capacidade de julgamento – acho que querem dizer discernimento – autonomia, orientação para servir, negociação de novos tempos e flexibilidade cognitiva. É igual ao nosso curso de Kundalini Yoga de sexta-feira. Creio que isso é bem importante para os que estão entrando no mundo dos negócios, ou nas faculdades de negócios.


A aula de hoje é para a coluna. O Yogi Bhajan dizia que determinadas aulas para coluna são apenas aulas de flexibilidade. Puramente para a flexibilização muscular, para alongar. Outras determinadas aulas são para conduzir informação e para ajustar a nossa psique com a do universo. São para a intuição, que é o tal radar interno. A aula de hoje é uma dessas.


Kriya for the Back, do Manual Kriya

Meditação NM 0343, do Sat Nam Rasayan


Essa meditação do Sat Nam Rasayan é uma das boas técnicas para fazer acontecer o diálogo entre o triângulo superior e o inferior. Ela foi dada pelo Yogi Bhajan em um contexto de fazer com que as pessoas parassem de temer doar. Costumamos falar muito da nossa generosidade, dela ser uma coisa filosófica. Mas na hora em que temos que estender a mão e dar, os dedos vão assim meio tremendo. Temos medo. A escassez é um traço muito forte na raça humana. Estamos muito mais próximos antropologicamente da experiência de não ter nada do que da experiência de ter, da abundância. O triângulo superior é inteiro entrega e doação. E o triângulo inferior é inteiro contenção, temor de não ter e apego.


Somos um paradoxo ambulante. Isso é bastante forte. A história é que o triângulo inferior tem esse apego e esse medo arcaico da escassez, porque de fato ele teve mais tempo para adquirir esse medo. Foram milhares de anos nessa experiência. Mas é fato também que para inaugurar um novo tempo precisamos largar o passado. O triângulo inferior é todo enfiado no passado. Enquanto ele tiver mais força que o triângulo superior estaremos vivendo o amanhã que foi o nosso ontem. Teremos apenas um amanhã um pouquinho revestido de aventura, mas ele segue sendo basicamente o nosso ontem.


Para que inauguremos uma caminhada coletiva da humanidade na experiência do triângulo superior, alguém terá que começar a fazer essa caminhada. Precisa haver um legado. Esse é um pressuposto do Kundalini Yoga: caminhar na experiência do triângulo superior. O guru Gobind Singh dizia que o destemor é muito importante no triângulo superior porque dessa forma se caminha pelo gosto de caminhar, não existindo uma garantia de encontrar algo. A única coisa que podemos fazer para ter o mínimo de controle nessa jornada para o amanhã é saber que, por uma lei da física, sempre que damos recebemos. E o que recebemos dependerá da frequência com que damos. Quando nos esvaziamos o universo preenche.


Ainda estamos num planeta em que a força da gravidade é a segunda força mais importante depois da eletromagnética. Todas as vezes que a força eletromagnética dá – porque é ela que faz desprender –, a força da gravidade preenche. Essa é uma lei da física. Mas se damos numa frequência do triângulo inferior, damos esperando uma garantia. Vamos ganhar, mas vamos ganhar numa mesma frequência.


Essa história da generosidade é antiga. Tenho uma fonte contínua de histórias muito cômicas de generosidade, porque meu pai era muito generoso, a ponto de ser irresponsável. Ele não achava que tinha que pensar no amanhã, portanto não era um planejador generoso. Existe um lugar na generosidade que é um compromisso de dar. Esse era o compromisso do meu pai, mas ele não tinha o compromisso de criar. Temos o compromisso de dar e temos que engajar a força de criar para nós, porque se dermos sem criarmos, haverá um ponto em que não teremos mais nada para dar. E aí vamos pedir. Essa é uma coisa que o Yogi Bhajan fazia muita distinção: a generosidade tem que vir com o compromisso de criar, para ela não ser uma força que apenas entrega, sem renovar.


O triângulo superior tem todos os requisitos para criar. Todos! O lobo frontal associado com o ego é uma força criativa. Mas a única garantia de que a nossa criação perdure no tempo e no espaço é a quantidade de doação que ela leva consigo. Criação e doação deveriam vir sempre juntas.


Existem duas grandes tendências. Uma tendência da arte, que é só de criar, e de não doar. É um mundo muito ensimesmado, a força criativa está em si e nesse si ela fica. Essa força tende a gerar muita falta de prosperidade. Toda vez que a força criativa é encapsulada no eu, ela gera uma força contrária que é o decaimento, a entropia. O meu pai era um grande exemplo da outra tendência. O da força de dar somente. Está tão no outro, que não está em si. Também não é bom. Ela gera uma outra força contrária, que é a força de esvaziamento completo e de dependência. Os dois exemplos tornam-se, na verdade, dependentes. Um porque está demais em si e o outro porque está demais nos outros.


No Kundalini Yoga não existe o triângulo inferior separado do triângulo superior. Ao mesmo tempo que estamos em nós, estamos no outro. Ao mesmo tempo que estamos no outro, estamos em nós.


Existe um momento na história em que temos que caminhar com essas duas coisas e o momento é agora. Essa é a tal Era de Aquário, em que nenhuma responsabilidade é retirada de nós, no sentido de termos que criar meios para que haja prosperidade. E nenhuma responsabilidade é tirada de nós, para que tenhamos que compartilhar a prosperidade. Isso faz parte dessa nova estrutura humana.


Muitos de nós caminham nesse sentido, muitos não caminham. Alguns recusam. Tudo bem, essa é a trajetória humana. Sempre haverá os pioneiros, aqueles que fazem, que legam. Não adianta imaginar que a massa humana embrutecida e cheia de medo vá fazer uma transição assim. Quem faz isso são os pioneiros. Essa é nossa tarefa.


Os pioneiros que vieram para o Brasil, vieram no máximo com suas famílias. Os que fazem uma transição sozinhos sofrem muito. Esse não é um país que acolhe. É um país bruto, que tem uma história de destruição muito grande nas suas terras. Aqueles que migraram coletivamente tiveram um destino melhor. Os pioneiros coletivos têm muito mais chance de sobreviver. Não podemos fazer pioneirismo heroico. Por isso é tão importante nesse momento uma sangat. Não é uma agenda de um herói. É uma agenda de um valor.


"May the long time sun shine upon you..."


[Transcrição: Sada Ram Kaur]


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