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[GSK] A morte do ego e a libertação da alma

Aula ministrada por Gurusangat Kaur Khalsa no dia 23 de novembro de 2018


[GSK abre a aula]


Hoje faremos um trabalho para o hipotálamo. Tanto o kriya quanto a meditação serão para a região límbica. Vou contextualizar essa aula pois vocês são professores de Kundalini Yoga que vão sair para o mundo e, em algumas situações, precisarão fazer o que o Yogi Bhajan dizia: amar e servir em nome do amor. Lembrando que amor não é condescendência.


Em nome do amor, ao se chegar a um determinado lugar, será necessário usar o cinzel e o martelo. O uso do cinzel e do martelo é preciso porque se esculpirem a casca de um ovo com eles, irão destruí-lo. É fundamental saber qual estrutura pode receber o cinzel e o martelo. Darei exemplos.


Certa vez o Gurujodha estava dando aula de artes marciais numa praça em Los Angeles e pensou: “O Yogi Bhajan podia passar por aqui e me ver dando aula pra esses meninos. Ele ficaria tão orgulhoso de mim! Olha como estou dando aula bem! Olha como estou trabalhando bem!...”. Terminando a aula, o Yogi Bhajan realmente passou pela praça. Mas nem olhou para ele, foi direto para o Ashram. Gurujodha sabia que o Yogi Bhajan ficava sentado na porta do Ashram naquela hora tomando chá e decidiu passar lá com a intenção de ser elogiado. Assim ele fez, e o Yogi Bhajan disse: “Êh, Gurujodha…”. Gurujodha pensou: “Ai, ai, ai, ai, ai... Me dei mal... Por que eu, estúpido, resolvi passar aqui agora?”. Yogi Bhajan prosseguiu: “Êh, Gurujodha... Você é igual Jodha, que pensava que era gordo! E você, pensa que é negro!”. Gurujodha seguiu viagem e se deu conta de que teria que dormir com essa. Precisou de meses para descobrir que estava se enclausurando na etnia, numa condição. O que o Yogi Bhajan pretendia era quebrá-lo dessa condição para que ele pudesse estar com todos e se sentir como todos.


Outra vez um professor ligou para o Yogi Bhajan para dizer que havia terminado sua sadhana. Estava vestido lindamente, indo para o escritório, e queria que o Yogi Bhajan o abençoasse. Ele respondeu: “A minha bênção é que você atravesse a rua da sua casa e um carro passe por cima de você e te mate na hora, porque você... só nascendo de novo!”.


Isso é o que chamamos de tough love, quando se usa um cinzel e um martelo para quebrar uma casca – a casca do ego, que é muito, muito dura, nesses dois casos. Em outros casos não. E para eles, temos que penetrar com toques, não com martelo e cinzel. Isso entendido, vejamos como se aplica.


Vocês acreditam que estão vibrando a sua identidade plena, mas o teste para sabê-lo se dá apenas e somente quando as circunstâncias os desafiam. É nessas condições que terão que ver como quebrar o casulo de uma determinada pessoa. Usando o cinzel e o martelo ou um toque delicado e suave. Isso não é fácil, porque todo o tempo serão julgados. Isso importa? Claro que não! Se estiverem realmente vibrando na sua identidade real, na identidade do professor, ou, em outras palavras, se estiverem no espaço sagrado, não estarão preocupados com o que os outros irão pensar de vocês. Estarão preocupados em fazer o seu serviço direito.


Vocês têm que penetrar. E, às vezes, para penetrar um ego inflado, vocês precisam explodi-lo. O mundo inteiro pode achar que são assassinos. Não importa. Não precisam se justificar. Por isso que é duro. E por isso Yogi Bhajan dizia que a profissão de um professor é muito solitária, porque vocês estarão mais ou menos sozinhos. Contudo, se estiverem vibrando em nome do espaço sagrado, farão o que tiver que ser feito. Se não estiverem vibrando no espaço sagrado, em vez de se conectarem com o trabalho que tem que ser feito, irão se conectar com o entorno e tentar agradar esse entorno. Isso foi o que aconteceu com o advogado do diabo. Isso é o que vai acontecer em outras situações na vida de vocês, em que terão que vibrar no espaço sagrado. Os testes serão as circunstâncias difíceis.


Perguntei a uma artista peruana que veio para a bienal e que apresentou seu trabalho em uma galeria se ela já tinha experimentado fazer suas esculturas a partir do espaço sagrado. Ela pensou, pensou, e disse: “Acho que sim. Acho que só faço a partir do espaço sagrado.” Muita gente concordou, mas fico com a minha pergunta, porque o espaço sagrado só vai ser testado em circunstâncias adversas. Quando vou para a natureza pintar, é muito fácil estar conectado com aquilo que creio ser meu espaço sagrado, porque aquilo é cômodo para mim, ou porque estou me sentindo bem. A história é eu me conectar com meu espaço sagrado quando eu não estou me sentindo bem e relaxado.


Vocês acreditam que estão se preparando para isso? É muito importante! Vai chegar o momento em que será necessário fazê-lo. Há alguns dentre vocês que têm o elemento fogo muito disponível para quebrar os casulos. Precisam apenas estar atentos para a distinção de que certos casulos podem ser quebrados com martelo e cinzel, outros não. E há alguns de vocês que têm o elemento água muito disponível. Água e terra são os elementos que incrustam na reatividade – em vez de responder, vocês reagem e recolhem. Então, temos duas condições: aquelas pessoas que reagem e não dão uma resposta, e aquelas que reagem se recolhendo. A questão é responder. Hoje entraremos no campo da resposta, e não da reação.


Aluno: No nosso cotidiano, nessas provocações diárias, há momentos em que temos condições de enxergar, perceber a provocação e acessar uma neutralidade que nos possibilita não reagir. Nesses momentos, entendo que fui para o espaço sagrado, porque consegui responder não pela provocação.


GSK: O que devo colocar na minha balança é se aquela pessoa está no meu altar ou não. Se ela estiver, a minha obrigação é responder e não reagir. Mas se quem estiver no meu altar sou eu mesmo, sempre irei reagir. Tudo isso que temos trabalhado são teorias, concepções, e tentaremos aplicar isso junto com o kriya. É claro que vamos nos qualificar também de outras maneiras: a comida que comemos nos qualifica, aquilo que nos recusamos a ingerir ou tomar nos qualifica, a maneira como nos vestimos e falamos nos qualifica. Não é só a teoria ou só o kriya. É um conjunto de instrumentos.


Vamos partir, agora, para a malhação do hipotálamo, um lugar abaixo do tálamo, que é a ponte entre os sistemas nervoso e glandular. Tudo aquilo que absorvemos do mundo e a nossa resposta para o mundo se constrói com o tálamo. Se formos bem recebidos, damos um sorriso; se formos mal recebidos, fazemos uma careta. Esse é o jeito normal. Pode, ainda, ocorrer de outra forma: sendo bem recebidos, damos um sorriso; sendo mal recebidos, também damos um sorriso. Nas duas situações, essa transição se dá pelo tálamo. É ele que faz a ponte do nosso mundo reativo ou não, mas quem determina e comanda a reatividade é o hipotálamo.


Kriya: Workout the hypothalamus, do manual Self-experience

Meditação: Chakkar Chalunee Kriya, do manual Self-experience

Yogi Bhajan afirmava que esta meditação é um kriya dos mais sagrados. Nasceram dele o budismo, o hinduísmo, a cabala e outras tradições místicas.


Em uma viagem à Índia em 1900 e bolinha, fomos visitar os vários Gurdwaras e também o local onde o Guru Gobind Singh tinha morrido. Não sei se vocês se lembram de que num desses lugares sagrados, ele matou um coelho. Aconteceu assim: Guru Gobind Singh chegou num lugar onde havia um coelhinho fofinho. Ele tirou uma flecha e o matou. Todos acharam que ele tinha ficado louco e perguntaram o motivo de ele ter matado o coelhinho. Ele respondeu: “Tem uma alma muito nobre e elevada dentro desse coelho desde a época em que Guru Nanak era vivo. Ela transmigra dentro deste coelho. Guru Nanak não teve condições de chegar até aqui, mas pediu que um de nós encontrássemos o coelho e libertássemos essa alma.”


Essa é uma história que serve como metáfora de que, às vezes, para poder libertar a alma, a consciência, é preciso romper, matar o ego. É muito importante que compreendam que algumas vezes o cinzel e o martelo têm que ir fundo para libertar a consciência. Quando não fazemos isso por nós, é muito bom que o professor faça. Se tiverem a bênção de fazer isso por vocês, melhor. No dia em que se olharem no espelho e não suportarem quem se tornaram, como aconteceu comigo quando eu tinha 26 anos, isso é a morte, o suicídio do ego. Mas o professor está aí para fazer isso e, se ele o faz a partir de um ambiente sagrado, essa alma que foi libertada agradece. Aos olhos do infinito, era um ser humano nobre e virtuoso enclausurado numa transmigração contínua num coelho. Para ele, a morte foi a libertação. Quem está vendo isso a partir do campo de cá, o campo do ego, acha estranho. O Guru Gobind Singh precisou explicar. No Gurdwara que visitamos, vimos a foto do coelho – a representação da alma saindo dele.


Aluno: Outro dia estávamos falando sobre a questão do ego, e que às vezes o outro enxerga mais o nosso ego e como ele se manifesta de uma forma viciada que nós mesmos.


GSK: É, isso pode acontecer. E é muito ruim quando isso acontece, muito doloroso. É melhor que nós façamos isso. Por isso que a tal da consciência é boa.


Aluno: A gente podia fazer uma rodada de ego! Não vai sobrar nada!


GSK: A sangat é a rodada de ego. Quando, por exemplo, alguém comenta: “Ai, mas nessa sangat que dizem que é maravilhosa, algumas pessoas falam mal das outras, não falam nada às claras...”. Essa é a rodada de egos! A lei cósmica se aplica a todo mundo, e a nós também. Aí a coisa pode limpar. A sangat é importante porque um revela para o outro onde esse outro está. Será assim até o fim dos tempos. Uma sangat vai ser o céu no inferno ou o inferno no céu, assim como a vida sempre vai ser neste planeta: o céu no inferno, ou o inferno no céu. Chamamos no Kundalini Yoga de paradoxo porque não o resolvemos. Nós o alimentamos e vivemos nele.


Quando se usa realmente o talento do professor, quando o professor está fazendo o trabalho dele, que é tirar a casca do ego, pode ser muito duro, porque se o outro estiver passando pelo Shakti Pad: acabou! A pergunta do outro é se essa pessoa me ama. Se ela tem essa pergunta, mas confia, ela atravessa. Se deixa as intrigas mentais tomarem conta dela, ela volta para um outro lugar. Todos passarão pelo Shakti Pad, não tem jeito. É um amadurecimento, uma saída da adolescência, é um não querer só privilégios, é um jeito de crescer. Se passarmos pelo Shakti Pad com a força da obediência e da entrega, estaremos salvos, e encontraremos uma pessoa muito inteligente para dialogar conosco. Será um diálogo rico, de titãs. Se passarmos reagindo, não atravessaremos. E então, voltamos...


May the long time sun...


[Transcrição: Sada Ram Kaur]



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