[GSK] Transcender a consciência individual
Aula ministrada por Gurusangat Kaur Khalsa em 19 de agosto de 2016
[GSK abre a aula]
Bom dia, gente! Sat Nam!
Hoje no fim de tarde começamos o nível dois "Mente e Meditação". Estou tão animada para esse curso, estou com muito entusiasmo. Acho que vai ser espetacular a gente ter uma chance de entrar no tema mente e meditação para entender como a gente combate as nossas intrigas mentais. Acho que essa é a grande história desse curso. Recentemente tenho ouvido elementos sobre intrigas mentais e é ótimo quando eles chegam para mim porque é sempre rico como material de trabalho.
Tem uma intriga mental que é individual e que a gente nem ousa falar, a gente tem vergonha delas, e a gente lida bem com elas. Porque uma vez que há mente, há intriga mental. Não tem jeito. Faz parte da estrutura, digamos assim. A história é de como a gente lida com a intriga mental, porque a intriga mental da qual a gente não tem nem coragem de falar é ótima porque ela é inocente, ela só atrapalha a gente. Ela só põe a gente para sofrer. Tem um outro tipo de intriga mental que é curiosa, porque você a pronuncia em sua defesa. Essa é dose. Essa é intriga mental que a gente usa como uma muleta para a gente viver no mundo. Duas delas idênticas chegaram em meus ouvidos, que é "eu tenho problemas com a Sangat". Esse é o “intrigaço” mental. E outra: "a Sangat não me ajudou". Então existe esse tipo de gente que não tem um mínimo de estrutura interna para processar o próprio descompasso e deposita a sua justificativa ou a culpa de sei lá onde ela está num negócio chamado Sangat.
Existe um leque de intrigas mentais que nesse curso a gente vai trabalhar. As intrigas mentais - prestem bem atenção nisto - quando elas saem daquele âmbito que é muito íntimo e pessoal, onde tenho a chance de lidar com elas e resolvê-la, e cai no outro, a pessoa acha que ela está solucionando, mas, na verdade, ela está aumentando o problema, porque vira uma rede kármica, aumenta a ignorância e a ilusão. Ninguém quer viver na ignorância e na ilusão. É por aí que a gente vai trabalhar.
Sobre esse impacto, trouxe uma aula para vocês que é sobre as glândulas. Existem no Kundalini Yoga vários kryias para as glândulas, mas esse possui uma característica muito importante, que é fazer vocês experimentarem, viverem o ser de vocês dentro do ser. Viver o ser dentro do ser é você estar em você e, ao mesmo tempo, é estar em um lugar que é muito maior que você. E dentro desse território que não tem fronteiras, que é o ser, que é o que a gente chama de ser universal, você poder experimentar você. É uma belíssima experiência de expansão e contração. Esse kryia é para isso. E porque a gente faz isso, expande e contrai. Porque a gente quer ter uma experiência nessa vida, que é buscar uma verdade e desfrutá-la sem dar nome a ela. No momento em que vocês derem um nome para a verdade, vocês a limitaram.
Essa aula é para experimentar algo que é tão próprio e ao mesmo tempo tão intangível, que seja tão você, embora tão mais amplo que você. Para vocês terem uma experiência muito concreta em vocês que é a seguinte quando vocês estão … Eu tive há dois dias uma forte crise de enxaqueca, eu fiquei muito, muito mal. E eu achei que tinha me livrado das enxaquecas porque eu me livrei da menstruação, então tem três ou quatro anos que entrei na menopausa, então não tenho mais enxaqueca, mas tive uma, e na verdade quando a enxaqueca terminou eu menstruei. Então tinha a ver com os hormônios. E eu estive tão mal, que numa manhã dessas eu me deitei e escolhi não tomar remédio. E ver até aonde isso chegaria. E deitei na minha sala de Sadhana e me sentia tão grata, tão entregue, tão feliz que era uma coisa incompatível, você estar tão mal, com tanta dor e ao mesmo tempo tão grata. Eu ficava grata a tudo, a mim, ao tapete, ao chão ao travesseiro, às aves que eu via. Grata a tudo. Essa é a experiência de estar no ser e ter a experiência de ter o seu ser no ser. E eu acho que isso é uma bênção, e isso não é um estalo, você não adquire essa experiência num estalo. Você adquire isso com seu estilo de vida, com uma prática consistente da sua meditação. Isso é um processo. Vocês estão compreendendo? E esse kryia ajuda vocês a experimentarem isso que eu tive a benção de viver e a que se chega lá a duras penas e fica-se lá por alguns segundos, então nada está garantido. Não queiram colocar nome numa experiência que é inominável, intangível e ao mesmo tempo é sua. Isso é uma das coisas mais importantes para quem pratica meditação, e para quem é do Sat Nam Rasayan é a base, é a base constitutiva do Sat Nam Rasayan. Para vocês é uma experiência que vocês podem construir, e o teste de que vocês estão consolidando esses hormônios em você é quando vocês estão na pior e vocês estão gratos. Na pior, você sabe que você está na pior e você não reside apenas no território limitado do seu desconforto. Você aceita experimentar aquilo que não tem paredes, você é muito vasto, você pode ficar aqui e ao mesmo tempo pode ficar em todos os lugares. Então esse será nosso trabalho de hoje.
Kriya for Glands, p. 71 do livro Kriya
Meditação: Meditation to Transcend Individual Consciousness and Anger, p. 263, do livro Kriya
Eu vou ensinar para vocês hoje uma meditação que só pode ser praticada por dois minutos. E ela é para transcender a consciência individual e a raiva. São esses dois elementos que aprisionam a gente no território finito, ou quando o território está muito bom ou quando está muito ruim. Ajuda a gente a transcender a consciência individual, aquilo que eu sinto, aquilo que eu sei que é verdade, aquilo que eu sinto. Isso é a consciência individual. E leva a gente além da raiva, isso é ótimo em relacionamentos. O Yogi Bhajan deu esta meditação no acampamento para mulheres e era um recurso para ser usado quando o casamento entrava em conflito, mas pode ser qualquer tipo de relacionamento, em que você precisa transcender a consciência individual e a raiva.
[GSK encerra a aula]
May the long time sun shine upon you
Essa foi a experiência da aula de hoje. A sensação de que no primeiro ásana vocês foram para aquele lugar sem território. É claro que o trabalho todo não foi feito no primeiro ásana. Foi feito realmente porque nós estamos no radar do Guru. O Guru já colocou a gente no primeiro ásana nesse espaço. A gente pediu, a gente projetou e foi isso que nós fizemos. Então vocês precisam confiar demais nesse fato. Confiarem nesse espaço que é criado, como nessa meditação de dois minutos, que parece que nada aconteceu, mas num momento crítico vocês poderem sair da sua consciência individual e lembrarem que quando vocês saem da consciência individual, vocês não ficam sem consciência, você não perdem suas identidades. Pelo contrário, você ganha, enriquece a experiência da realidade, da verdade, porque não é só aquilo que sua consciência individual pode absorver. Pelo contrário, quanto mais você estiver na sua consciência individual, menos você absorve da realidade. Isso é muito importante em tempos de crise, muito importante.
Vocês todos devem ter ido ver o Mondrian e devem ter visto que ele fazia parte da Sociedade Teosófica. Quero falar com vocês da Sociedade Teosófica porque ela é um marco na história da humanidade. É um marco da humanidade depois da Primeira Guerra Mundial. Ela é uma experiência da consciência humana que queria entender o absurdo que foi essa guerra. Mas ao mesmo tempo que acontece uma sociedade teosófica tem esse movimento em busca da espiritualidade apoiado por uma nobreza europeia e por artistas. Então aqueles intelectuais e artistas, que mais estavam transitando por um momento em que nada daquilo que houve na Europa e no mundo fazia sentido, buscam a sociedade teosófica. Ao mesmo tempo, há um grande cara que era um perfeito maluco e que foi o combustível para a revolução Russa de 1917. Era o Rasputin, um padre siberiano, um perfeito mago, que sabia manipular os tattwas, era também um yogui, que se junta à família Romanov e condena a Rússia à experiência mais trágica, que foi a transição do imperialismo czariano, a autocracia czariana, para a autocracia do proletariado. É muito interessante ver que quem é o pivô disso é um yogui piradérrimo, totalmente confuso de seu papel. E isso é incrível.
É incrível a gente compreender que em momentos de grandes crises, é muito importante que a gente esteja não só na nossa consciência individual. É muito importante que a gente esteja nesse lugar vazio, sem fronteiras, para a gente ser parte de um processo que irá transformar realmente sem trauma. Claro que a transformação vai sempre existir e, se a gente pensar na União Soviética, quando o comunismo acabou, ela estava no mesmo lugar que ela está hoje, numa trágica situação. Dessa experiência do comunismo, nada praticamente sobrou para a União Soviética. Poderia ser diferente, mas não foi diferente por causa do Rasputin, porque ele era pela aristocracia totalitária czarista. E ele salva o filho da Alexandra, Alexei Romanov, que era hemofílico. Não sei se vocês sabem disso, mas na Europa do século XIX toda a realeza tinha hemofilia porque praticamente todos eram netos da Rainha Vitória, que tinha o gene da hemofilia e o transmitiu a todos. A mulher teve 22 netos que ocuparam tronos da Rússia a Portugal e todos eram hemofílicos. Então esse menino tinha 8 anos, Alexei Romanov, e estava na beira da morte e o Raputin o salva com técnicas yóguicas. E o menino só não vive bastante porque foi morto pelos bolcheviques. Isso se dá 1919, quando ao mesmo Sociedade Teosófica está sendo erguida na Índia. E o Rasputin tentando manter um regime falido. Então o reajuste que precisamos fazer nas nossas psiques independem de ideologia. Então se aquela coisa não ajudou, vai piorar demais até ajudar.
Então todo ajuste que temos de fazer do ponto de vista evolutivo para que a gente se torne um ser compassivo, competente e transcendentes vai acontecer, é uma questão de tempo. Ou a gente pode facilitar isso, intervindo nos processo históricos não apenas com nossa consciência individual, mas com essa consciência coletiva, ética ou o processo histórico vai depurar, vai piorar, piorar, piorar... até melhorar. Nós no Brasil estamos vivendo isso, um momento não tão drástico quanto a Primeira Guerra Mundial.
[Transcrição Sada Ram Kaur]
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