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[GSK] Tolerar o intolerável

Aula ministrada por Gurusangat Kaur Khalsa em 5 de agosto de 2016*.


Vocês lembram o que a gente trabalhou no semestre passado? Tem a ver com nós nos colocarmos com nosso corpo radiante, para que, através dele, a gente tenha uma força de presença que cure. Por isso, a gente explorou vários níveis do nosso corpo. Neste semestre nós vamos trabalhar o que no inglês a gente chama de auto­domain, mas em português não faz muito sentido dizer "autodomínio". Se eu tivesse que fazer uma tradução, diria que é o espaço que nós criamos em nós a partir de nós onde apenas nesse espaço nós somos livre.

Não existe liberdade que seja concedida, então é uma grande falácia dizer: "God will set you free/ Deus vai te libertar". Deus não tem nenhum compromisso com a nossa prisão. Ele colocou para a gente algumas condições para que a gente tivesse uma experiência na terra, vocês se lembram? Primeira condição é que seria uma experiência temporária. Segunda que ele nos daria um veículo que nos serviria para que a gente se comunicasse com o infinito – esse veículo é a mente. E terceira, era a garantia de que nós encontraríamos um professor. Só depois que a gente alcança essa experiência é que a gente alcança o nosso domínio.


O nosso domínio no Kundalini Yoga é uma única coisa que tem a ver com a nossa liberdade, com a liberdade que tenho de fazer escolhas em circunstâncias que me obrigariam a ser escolhido. Vocês compreendem esse trocadilho? O tema deste semestre é: as circunstâncias parecem declarar o tipo de comportamento que eu vou ter. Vocês sabem disso. Quando é que as circunstâncias declaram um tipo de comportamento que vocês vão ter? É quando o ego é testado. Todas as vezes que o ego de vocês for provocado, vocês reagem. E toda reação nada mais é que uma ação reflexa de defesa. Essa ação reflexa de defesa não demonstra a sua liberdade. Pelo contrário, demonstra apenas o quanto você está preso. O quanto você é prisioneiro do seu ego, do eu padrão. Este semestre nós vamos trabalhar isso. As circunstâncias parece que me pedem que eu aja de determinada maneira, mas eu vou ser livre par fazer a minha escolha. E para ser livre para fazer escolhas é preciso ter um plexo muito forte e um sistema nervoso muito forte. E o Yogi Bhajan comenta: se você está numa situação em que você foi provocado, conte até 9 segundos antes de reagir. Vocês se lembram da história dos 9 segundos? Quantos de vocês estão presos no domínio do seu ego?


Então vamos abrir a aula?


[GSK abre a aula]


Nós vamos explorar o domínio próprio e trabalhar no corpo os caminhos neuro­hormonais que permitem que a gente estabeleça uma relação livre com nossas reações, ou seja, que o padrão não seja reagir, que a gente não seja escravo do meio. E ao que mais explica isso de um modo mundano é o humor, quando a gente vive com humor. O humor é um reflexo dessa liberdade, especialmente quando a gente cai na miséria. E a gente ser capaz de, por exemplo, se a gente tivesse que fazer uma propaganda do O.B., a propaganda nossa seria uma coisa rosa, lilás e escrito assim: "metido!" Risos... Então é assim, é essa liberdade que a gente tem que ter.


Kryia: Sahib Kriya, do manual I am Woman.


A gente tem um curso de Nível II acontecendo nas próximas semanas, que vai ser ótimo. O tema vai ser "Mente e Meditação" e vamos explorar esse tema neste semestre. Tenho uma supernovidade para compartilhar com vocês, uma ótima novidade, é que este anos na nossa bienal, que acontece em novembro, nós vamos ter pela primeira vez o Peace Prayer Day. E a gente está fazendo o convite para as lideranças religiosas do islã, do judaísmo. Então tem um rabino, um sheik, uma capitã do congado, alguém do candomblé, alguém do espiritismo, tem alguém do Zen­budismo e a gente deixou para uma próxima vezos católicos e o budismo tibetano, porque não tinha como por no palco todo mundo. A gente está convidando o vice­presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa, o deputado Durval Ângelo, para falar. E o Peace Prayer Day vai ser como uma apresentação cultural, então vai ter uma roda de congado. Vamos deixar os povos indígenas também para uma próxima vez porque não temos condição de pôr todo mundo no palco. E uma série de outras tradições também para uma próxima vez. Esse dia vai ser a abertura do festival, no sábado, às 17 horas e é livre, todo mundo da cidade pode participar. Este ano a gente está trabalhando por isso, então novembro promete. A gente estará com a Sardani Guru Amrit na nossa bienal, vai ser muito bom. E o tema da bienal, assim como foi o tema do solstício, é sobre o coração, é sobre a compaixão. Os tempos estão tão cáusticos, tão difíceis que se nós não entendermos com a inteligência que vem do coração, nós vamos simplesmente fazer reformas e não transformar, e a gente está precisando de transformar. A gente está precisando do novo. E lembrem-­se! Muitas vezes, para a gente alcançar a transformação, a gente precisa tolerar o intolerável. E às vezes tolerar o intolerável é intolerável. E a gente quer fazer algumas adaptações, a gente que permanecer com algo que já é conhecido, mas isso seriam as reformas e a gente está precisando é de transformar. E transformar muitas vezes significa tolerar o intolerável. Na vida da gente é assim, em todos os lugares é assim. Existe um apelo de não ficarmos no intolerável porque é duro demais. Mas na hora em que vocês não tiverem mais tolerando vocês, vocês mudam. Enquanto vocês estiverem fazendo reforminhas, vocês não vão transformar.


A história que compartilho com vocês é que eu passei a não me tolerar nos meus 27 anos. E tem uma coisa que tenho que dizer para vocês, que talvez não tenha a ver com nada, talvez tenha a ver apenas com os jovens que estão voltando para Miri Piri Índia, mas vocês vão escutar. E eu vou falar para vocês, embora eles sejam o canal. O seu dinheiro não vale de nada. O seu dinheiro só vale alguma coisa se ele for destinado a servir o outro. Não pense que se você comprou alguma coisa você tem qualquer direito sobre o que você comprou. O seu dinheiro não vale de nada. Na casa do Guru Ram Das, existe uma prosperidade infinita desde que esse dinheiro e essa prosperidade não sirvam apenas até onde sua mão estende. Patriarca babaca.


Se sua mão estende até seus netos e você quer servir apenas até seus netos, você não está inserido na casa próspera do Guru Ram Das. O nosso dinheiro precisa circular e as pessoas precisam prosperar igualmente. Nós não podemos nos igualar por baixo, nós precisamos nos igualar por cima. Se vocês estiverem ensinando seus filhos que, porque eles pagam, eles são donos, esquece!! Quanto mais dinheiro a gente tem, mais dever a gente tem. De servir, de compartilhar.


Vocês precisam compreender isso dentro de vocês, porque no momento em que vocês pararem de pedir e começarem a dar, por menos que vocês têm, vocês vão entrar no fluxo da casa do Guru Ram Das. E na casa do Guru Ram Das não falta nada, não falta dinheiro. Compreendam isso dentro de vocês. Nós temos essas crianças para educar. Nós temos essas crianças nossas que já estão lá, mas há tantas outras crianças que agora estamos adotando na Escola Miri Piri, mas não é porque você adota uma criança na Escola Miri Piri que você não vai ter dinheiro para pagar em outro lugar. Vocês têm de perder o medo de não ter, porque na casa do Guru Ram Das não falta nada. Mas me preocupa o cinismo de muitos, e esses jovens que gastam vinte por cento do tempo de um professor com indisciplina, arrogância. Vocês jovens precisam aprender a obedecer para saber comandar. Existe uma força de comando disponível em vocês, mas vocês precisam aprender a render as suas cabeças. A arrogância de vocês vai deixar vocês na arrogância.


O dinheiro de vocês não vale nada enquanto ele servir só a vocês. Escutem bem, vocês não compram nada com o seu dinheiro. E a sua arrogância não vai te levar a lugar algum. Então, nós só prosperamos juntos com tudo que nós já fizemos porque nós somos extremamente generosos. E nós temos de ensinar aos nossos filhos a serem generosos e compartilharem o mínimo que eles têm. Esse é o legado para esses jovens que estão indo para Miri Piri Índia. Eles estão indo lembrando que têm uma Sangat em que todo mundo lutou por eles. Eles têm uma Sangat que é generosa. Eles têm uma Sangat que provou que o brasileiro é capaz de se comprometer com um projeto e realizá-­lo. Vocês são representantes dessa Sangat, não sejam arrogantes, não sejam indisciplinados, não sejam tolos.


Porque a tolice, arrogância e a indisciplina de vocês não nos representam. E nós aqui precisamos manter o mesmo fluxo de não sermos arrogantes, de não sermos covardes e não sermos egoístas porque nós estamos ensinando aos nossos filhos. Eu não tenho a menos ideia de por que é que isso veio, mas deve ter uma razão. Saiam daqui com esse espírito, de vocês servirem, de vocês serem humildes. E vocês, por favor, fiquem aqui projetando a ausência de medo e destemor. Essa é a inteligência do coração. Vocês serão sempre testados nesse lugar. Lembram quando eu estava demais precisando de um emprego para comer? E um cara falou, "primeiro você dá para mim, depois eu te dou o emprego". Eu tinha 21 anos e eu não dei pra ele e continuei com fome. Existe um momento que a gente tem de colocar em prática os nossos valores. Foi a melhor coisa que eu fiz na vida, porque eu ganhei de presente o meu futuro.


Nós estamos no Brasil vivendo um momento em que essas pequenas corrupções precisam ser encaradas de frente. Nós somos muito corruptos, muito corruptos. A nossa corrupção não é declarada, como é na Índia. A nossa corrupção não é verbalizada, ela é muito sutil. Então, esse é o momento de a gente transformar a psique desse país. Vamos transformar através de nós mesmos. E é por isso que a gente tem essa escola, e ela está fazendo a diferença nesse sentido. Satjeet, você vê corrupção na Japji? Siri Sahib, você vê corrupção no Dharamraj? Tem jogos! Está na psique! E a gente tem de ter um contínuo trabalho de limpar. Não pense que vocês que estão em Miri Piri não são corruptos! A nossa infância é corrupta. E quem corrompe somos nós, os adultos. Então, gente, é um trabalho de limpeza de baixo para cima.


Vamos fazer isso juntos. Esse é um ano em que vamos estabelecer a conexão com o coração. Tomara que isso alcance o país. E o que eu quero para o país, e sei que é o que vocês querem, é uma transformação. E para transformar a gente precisa viver o intolerável. Lembra que o Yogi Bhajan falou isso lá em Berlim! Ainda bem que nós não somos alemães, ele colocaram num forno de um campo de concentração os judeus, os ciganos. Pensa bem, seria muito mais pesado. Nós não fizemos isso. E aí o Yogi Bhajan conversando com os judeus lá em Belirm, falou: "Por que vocês estão chorando até hoje? Desde as treze tribos de Israel, vocês queriam um Estado de Israel, vocês precisaram engolir um Hitler para o Estado de Israel existir". Às vezes, a gente tem de tolerar o intolerável par a gente conseguir o que a gente quer. Quando a gente está no intolerável é duro permanecer nele, mas não tem outro jeito. E os judeus ficaram pálidos com a fala do Yogi Bhajan, e os alemães choraram.


Sat Nam!


May the long time sun...


[Transcrição: Sada Ram Kaur]


* No mês de julho houve recesso nas aulas da Gurusangat Kaur Khalsa

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