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[GSK] Processar a contradição à luz da consciência

Aula ministrada por Gurusangat Kaur Khalsa em 12 de maio de 2017


[* A gravação não foi feita desde o início da aula]


[GSK] O Yogi Bhajan faz a pergunta: “por que a gente escolhe as emoções?” Como vocês respondem? É lógico que vocês sabem essa resposta.


Aluno: Para ter um prazer imediato.


[GSK] Isso. Para ter um prazer imediato, porque a concessão de benefícios para o nosso prazer imediato é intoxicante. A gente pode sofrer pra caramba lá, mas na hora que a gente tiver um gosto, aquele gosto vale todo o sofrimento. Então a gente nega a realidade dura que a gente está criando para a gente mesmo, a gente entra no estado de negação da nossa própria estupidez e valida nosso tormento porque a gente está sentido assim. Nos trabalhos de comunicação não violenta, quando você diz que está seguindo os seus sentimentos, parece que você está seguindo uma ordem superior, como se os nossos sentimentos fossem uma ordem superior, e não a consciência. Vocês estão compreendendo a loucura que está havendo? "Estou seguindo uma ordem superior, a ordem dos meus sentimentos". Os sentimentos só ganharam um pedestal de ordem superior ao final da era vitoriana, ganharam esse pedestal: “ah, eu tenho de seguir as catarses”.


Eu me lembro em Berlim que eu andava com uma amiga minha, muito mais velha, senhora, distinta, professora da universidade que parava o carro onde dava quando ela tinha um ataque de sentimentos, pegava as garrafas do carro e jogava com violência nos contêineres de vidro, colocando os sentimentos para fora. Isso era nos anos 80. Mas nós estamos no ano de 2017, é importantíssimo que a gente deixe o Baudelaire de lado, que a gente deixe o romantismo de lado e assuma uma característica muito importante no nosso dito humanismo: o mais importante não é só o que é melhor para mim, mas o que serve a todos. Então a aula de hoje é para que a gente não vá processar nossa contradição e nossos conflitos nos sentimentos. Só tem uma coisa difícil para isso, mas é uma dificuldade inicial. Quando a gente processa na consciência, a gente é obrigado a conter o nosso impulso de ter uma solução imediata. E a gente é obrigado a estar num estado de oração, porque você não tem a menor ideia de quem está com razão. A luta ao processar na consciência a contradição e os conflitos não é para ver quem tem razão, mas para ter clareza. Por isso que um professor é importante. Eu recebo uma lista enorme de problemas todos os dias, mas o maior problema que eu vejo é que a gente continua a processar os conflitos na sala das emoções e não na sala da consciência.


Kryia: Correct Nerve Shallowness, do manual Infinity and Me

Meditação: Prosperity, Fulfillment and Success Circling your Psyche, do mesmo manual


O Yogi Bhajan diz: "são os ensinamentos que sobreviverão, não o professor". O professor é um meio de carregar os ensinamentos. É importante a gente considerar isso numa aula como a de hoje porque processar tudo em Daramshala, nessa sala da consciência, nos garante a passagem para que a gente saiba deixar o legado. E o legado que a gente vai deixar não é de confundir o mundo como se a gente fosse os ensinamentos. Nós somos aqueles que estamos dando passagem, inclusive o Yogi Bhajan, e dar passagem é o quarto estágio do amor.


Vocês se lembram de qual é o quarto estágio do amor? O primeiro é o encantamento, o segundo é quando os hormônios estão dominando, o terceiro é a realização do desejo e o quarto é a purificação. É o estado que se você não deixar acontecer, o amor nunca acontecerá, porque você se purifica para amar. Normalmente as pessoas param no terceiro, quando realizam o desejo e ele vai embora, e não se purificam. O estado de purificação é o estado de estar na sala da consciência. A gente não dá esse tempo e não permite com compaixão esse estado acontecer, a gente fica na sala das emoções, buscando sempre ocitocina, ocitocina, ocitocina, ocitocina...


Então, com isso nós nunca daremos passagem ao legado e nunca faremos parte do legado, porque a gente vai sempre reagir, sempre reagir quando a gente estiver sendo testado. E o teste nosso não é outra coisa a não ser a gente deixar um legado, senão porque eu teria de passar nesse teste? Afinal, como dizia meu pai: a vida é minha e eu faço com ela o que eu quiser, aqui está ótimo, porque eu não posso ficar aqui, tenho de sair, ninguém me perturba, eu não devo nada a ninguém... Por que nós aprendemos que não é assim? Porque assim, certamente, você não cumpre o seu destino de alma. Ou você vai ter de sofrer demais para resgatar o seu compromisso de alma ou sofrer mais ainda vindo para cá “n” vezes para cumprir seu destino.


Existe um propósito para eu estar em daramshala. O esforço é o mesmo, só que na sala da consciência você deixa um legado. Afinal de contas, se a gente não fizer isso e todo mundo ficar ali, o mundo sucumbe, e estas ainda são as terras onde a gente nasce para experimentar o primeiro reino daram khand, sobre o qual estou escrevendo para o nosso curso do Japji. E vocês vão ter um livro bem extenso que fala sobre os princípios do Dharma. Guru Nanak fala de cinco khands, a partir do pauri 35, e o primeiro khand, o primeiro reino, é o dharam khand, que é a terra, o reino do dharma. Se a gente não veio para esse reino com propósito e sai dele com uma missão feita, está muito esquisito, nossa consciência está muito limitada. Por isso que a gente não pode acompanhar meu pai e morrer ali, porque é pobre. Esses conflitos que vocês aprontam entre vocês acontecem porque vocês estão tratando os problemas ali. Vocês precisam tratar os problemas aqui, na sala do dharma e na consciência. E jeito para fazer isso tem. Ontem à noite, eu tive um atendimento curioso de três pessoas bem jovens da educação, que estão sofrendo uma série de difamações. Eu já falei muita vezes: qual é o problema de ser difamado? Limpa carma. Você só fica sofrendo quando você processa a difamação ali, mas se você processa na sala da consciência não tem problema. Alguém falar mal de mim só me toca porque toca o meu ego, eu compreendo isso. Mas conversando com essas pessoas, elas me falaram: 'tem dez anos que a gente faz tudo para essa mulher, não sei o que'... obviamente que tem uma história cármica. E é curioso que essas pessoas fazem a mesma coisa, elas difamam certas pessoas hoje porque se dão o direito e o poder de achar que elas estão certas e o outro está errado, então agora elas estão experimentando o lado de quem é difamado.


A lei do Dharma é muito nítida, quando Guru Nanak termina o Salok, ele fala assim: se você trabalhar muito e se liberar, você se libera e muitos se liberam com você, e aí esse processo vai ficar claro na terra do dharma. Você paga carma onde? Aqui. Então quando o processo de difamação ocorre, maravilhoso! Porque você não vai precisar voltar para cá. Tudo isso são questões de perspectiva por onde você olha o problema. Se vocês passarem a olhar o problema dentro da sala da consciência, vocês vão ter muito mais elasticidade, resiliência, amor, fé para lidar com o conflito e o confronto e nada melhor do que o tempo. Vocês não precisam esperar muito tempo. Eu acho que eu não estou tão velha e muitos milagres já aconteceram comigo desde que eu comecei lá no ano 2000, tem 17 anos. Milagres aconteceram. Milagre! Foram necessários 17 anos para as pessoas compreenderem que aqui está a sala do dharma. Vocês não sabem a mão de Deus, vocês não tem ideia de como as coisas são arquitetadas. Vocês precisam parar de processar as coisas ali. Uma pessoa falou mal de mim porque eu represento vocês e o sucesso às vezes é insuportável, isso nunca me causou nenhum prurido, eu nunca me preocupei com isso. Isso também não me fez atacar essa pessoa, muito pelo contrário, me fez servi-la. Eu estou convidando vocês a ficarem nesse lugar.


Nosso Gurdwara de domingo vai ser para isso, para a gente permanecer processando os nossos desafios em daramshala. Nós temos de fazer isso coletivamente, temos de vibrar essa frequência, porque senão nós vamos perpetuar esse conflito. Se eu tivesse me engajado nesse conflito, vocês teriam tomado meu partido, vocês estariam em conflito. E o futuro de vocês seria o conflito e nós estaríamos fragmentados. Vocês não podem gerar esse legado, não pode ser legado de conflito, tem de ser o legado da compaixão e da paciência.


May the long time sun shine upon you...


[Transcrição: Sada Ram Kaur]

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