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[GSK] O que importa é aquilo que fazemos consistentemente

Aula ministrada por Gurusangat Kaur Khalsa em 15 de maio de 2020

[GSK abre a aula]

Hoje vamos trabalhar um tema muito recorrente. Yogi Bhajan, nesse material, o chama de memórias em trânsito. São memórias que insistem em passar pela nossa mente. Elas têm raízes muito profundas e estão ligadas a momentos de vida nos quais vivemos algo que nos causou constrangimento. Essa sensação de constrangimento faz com que muitos de nós entremos em um espaço de recolhimento e contração, no modo de proteção. Tais memórias funcionam holisticamente dentro dos nossos padrões de registro no cérebro.

As memórias funcionais, que usamos para aprender ou trabalhar, como tato e sons, também não se colocam em apenas um lugar do cérebro, mas de modo amplo e diversificado. Isso porque, se temos um problema em alguma parte do cérebro, essas memórias não ficam desaparecidas. Já as memórias de dor ou de trauma estão registradas em um lugar específico, que é a amígdala cerebral.

Bem como as memórias funcionais, também as memórias em trânsito são tão importantes na nossa necessidade de proteção que ficam gravadas em várias regiões do cérebro, para garantir que estarão lá quando precisarmos. Se, por um lado, isso é uma benção para a nossa defesa primal, por outro é um desastre para a nossa maturidade espiritual e emocional. Na visão yoguica, todas as vezes em que nos sentimos constrangidos, temos a grande chance de abraçar esse constrangimento e, com isso, a oportunidade de limpar aquela memória. “Bom, deixa eu ver o que tenho aqui”.

Essa aula é cheia de pranayamas e trabalha basicamente o pulmão, esse assento da alma – atma – na caixa torácica. Essa é a região do corpo que tem a maior capacidade de absorver prana e liberar apana. Buscaremos nossa capacidade de expansão através desse registro do sem forma para limparmos as memórias em trânsito ou para nos tornarmos conscientes de que não adianta rejeitar o momento em que somos confrontados. O melhor mesmo é abraçar.

A aula de hoje talvez seja uma prática concreta de um tema filosófico no Kundalini Yoga: Pratyahar. Yogi Bhajan diz que se encontramos uma realidade dura, a primeira coisa que precisamos fazer é experimentar a totalidade, o infinito. Se encontramos alguma coisa que nos confina e reduz – a um ponto, pessoa, desafio ou situação – isso é o finito. Se encontramos uma realidade dura, que é o finito, devemos ir primeiro para a totalidade e tentar experimentar o infinito. E quando estivermos experimentando a totalidade, levamos a nossa personalidade inteira para essa realidade. Em outras palavras, encaramos o finito com o nosso infinito. Isso é Pratyahar.

Para fazermos isso, precisamos ter consciência das memórias em trânsito. São elas que nos impedem de abandonar o finito. O finito é tão sedutor na sua ameaça, que nos reduzimos a ele, à ameaça. Esse é um lugar espetacular para libertar o ser humano. Quando somos confrontados na nossa realidade e nos reduzimos a aquele confronto, ou situação, nos reduzimos a algo ridiculamente constrito da realidade. Ridiculamente menor que o todo.

No Kundalini Yoga, o convite é ir para o todo e voltar para o finito, tendo chegado no todo. O Pratyahar é o grande caminho para o nosso amadurecimento emocional enquanto seres humanos.

Kriya: Getting Rid of Transit Memories – Parte I, do manual Rebirthing

[Aluna] Essas memórias em trânsito são só de constrangimento ou são também de dor e outros tipos de memória?

[GSK] As memórias em trânsito não têm nada a ver com memórias de dor e trauma, que estão registradas nas nossas amígdalas. As usamos para tentarmos ficar o tempo todo bem na fita. Quando sentimos: “ficou mal para mim”, vestimos uma máscara para enfrentar esse momento. Utilizamos vários recursos para não ter que encarar a situação, nos vitimizando, sendo violentos, nos fazendo de bobos, fingindo que não entendemos. Cada um de nós tem uma infinidade de memórias em trânsito para usar nessa hora. São recursos disponíveis da nossa finitude. Não têm a ver com dor e trauma, mas com nossa pouca vontade de abrir o peito ao sermos confrontados.

É por isso que um professor de Kundalini Yoga não tem o direito de criar nenhum tipo de constrangimento ao aluno ou a qualquer outra pessoa. Por nunca sabermos como o outro reagirá e por podermos tornar a situação cada vez pior para o outro.

Há muitos anos atrás estávamos começando o curso de formação e um professor veio conversar comigo. Ele tinha uma aluna regular de Kundalini Yoga que estava fazendo o curso de formação e ele descobriu que essa aluna já dava aulas há muito tempo, mesmo sem ser formada. “Ela vem a minha aula, pega meu material e dá aula de Kundalini Yoga”. Me questionou se eu iria confrontá-la. Fiquei muito em dúvida do que fazer. Liguei para o KRI e quem me atendeu foi a Guruka Kaur. Contei a situação e ela me respondeu: “Não crie nenhum tipo de constrangimento para essa pessoa. Se ela está na formação agora, abrace-a, certifique-a. Ao certificá-la, ela deixará de estar confrontando a legalidade”.

É nesse grau que precisamos entender como não causar constrangimento. Mesmo no confronto, o melhor é sempre um entendimento muito mais amplo daquele momento. Mas também haverá situações nas quais é inevitável que alguém se constranja.

O tema mais importante da aula de hoje é o que publiquei ontem no meu Instagram: “Its not who you think you are or what you want to be, you are what you do consistantly”. Não se trata do que você pensa ser ou quer ser, mas do que você faz consistentemente. Nossa identidade é projetada através daquilo que fazemos consistentemente. Se estivermos consistentemente enfrentando o finito com o nosso finito, não adianta dizermos que somos yogis ou sikhs. Às vezes, uma pessoa que jamais se sentou em uma sala de Kundalini Yoga ou teve o dharma nas veias pode ser tão dharmica e yoguica quanto é possível.

Se, consistentemente, tentamos encontrar o finito com o nosso infinito, não importa quantas vezes tenhamos errado ou machucado alguém. Somos aqueles que consistentemente tentam, e isso é mostrado ao mundo. Wahe Guru! Aí, sim, somos Professores. Grandes gigantes para subirmos nos ombros!

May the long time sun shine upon you...

[Transcrição: Karamjeet Kaur]

[Edição: Nav Amrita]

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