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[GSK] Não se negar à entrega


Aula ministrada por Gurusangat Kaur Khalsa no dia 09 de março de 2018


[GSK abre a aula]


Tenho uma reverência por esse nosso espaço de trabalho na sexta-feira! Acho que a gente é sempre muito abençoado nessas aulas. Na noite anterior, as de quinta-feira, tenho uma oração sobre o quão profundo esse trabalho deve ser. Na semana passada, trabalhamos a história do radar. Vocês se lembram qual foi o eixo da nossa conversa da semana passada?


Aluna: "Limpeza específica de padrões no subconsciente."


GSK: Verdade, mas a gente teve um momento muito importante. A aula foi limpeza de padrões do subconsciente. Mas o que falei do radar?


Aluna: Da resistência na presença do professor? Quando a gente se coloca nessa resistência de uma forma requintada e com a comunicação elaborada para poder, de alguma forma, se justificar na negação dessa presença.


GSK: A palavra chave da semana passada foi “negação”. Alguém consegue elaborar a partir do que a aluna falou?


Aluna: Acho que são as justificativas, as corrupções... A trama de corrupções que a gente vai criando para não ser vítima.


GSK: A gente falou disso, mas nós estamos falando para quem não esteve aqui. Como vocês falariam para fazer sentido? Aliás, acho que tenho que fazer isso com vocês pra resgatar, do contrário, vocês ficam sentados passivos. Você escreveu isso ai?


Aluna: A questão da negação da entrega, a dificuldade de entrar no radar por causa desse padrão negativo.


GSK: Nós estávamos falando do radar do guru e tentamos explicar o que seria o radar do Guru. O ponto principal foi: quando você entra naquele radar, você não sabe exatamente o que vai ser preciso, qual a entrega você vai ter que fazer para poder vibrar dentro daquele radar. Aquele radar é um radar de proteção e de bênção total. E então, o que eu tinha dito? Que quando você entra, você não tem que entrar perfeito. Lembram que a gente falou que não existe a história da perfeição? Muitas vezes você pode estar nesse radar completamente com a sua carga negativa. Não importa. Não é uma coisa puritana, de que você precisa estar limpo para estar no radar. Esse conceito não existe no yoga.


Aluna: Você falou que não é na ausência do erro.


GSK: Não é a ausência do erro. Você pode não estar limpo. Vocês precisam tirar essa ideia judaica-cristã da cabeça de vocês. "Para merecer estar no radar, tenho que estar limpo". Não. Não tem essa história de "merecer". Para "poder" estar no radar, tenho que estar “entregue”. É diferente. Se não estou limpo, essa limpeza vai acontecer dentro do radar, seja lá onde que está minha encrenca. Vocês entendem isso? A palavra foi "entrega". E aí nós falamos que, na maioria das vezes, essa entrega pressupõe uma limpeza e a gente tem um dificuldade de entregar. Pra gente poder entregar mais ou menos – porque a gente não quer admitir essa limpeza – o que a gente faz? A gente se corrompe.


E como é que a negação aparece? Na maioria das vezes, ela aparece como bajulação. Quando você faz pontes e ganchos para poder ser aceito, digamos, pelo professor, tentando uma negociação para comprá-lo. E a maioria deles são comprados, porque partem do princípio que precisam daquela pessoa. O papel do professor, que é de vocês ai, é pegar os seus alunos e terem com eles muita neutralidade, muita justiça –um senso de justiça e idoneidade muito grande. Para vocês, como professores ou como terapeutas, não cederem à programação de corrupção da psique do outro. Porque o que ele está precisando é exatamente desse campo do radar, esse campo da limpeza, para continuar sob bênçãos, sob proteção. Para isso a gente não pode cair no sistema de ganchos. Vocês entendem isso agora?


O tema da aula de hoje é sobre o coração. Por que que é sobre o coração? Para quem está chegando hoje, só lembrando que o nosso tema do semestre é entender o tal do radar do guru e permanecer nesse portal de proteção. Então é um dos elementos-chave de você perambular nesse campo protegido, ainda que fazendo tudo errado. E isso é o máximo: ainda que fazendo tudo errado! Se você estiver fazendo tudo errado, o único elemento novo para você é o tempo. Se você estiver fazendo as coisas certas, você acelera mais a sua jornada. Não tem problema estar fazendo tudo errado. Qual é o problema? O problema é só o tempo. O karma etc e tal.

Esse puritanismo não existe no Kundalini Yoga e muito menos no Sikh Dharma. A história é a consciência. No momento em que você conscientemente faz errado, aí você adquire karma. No momento em que você inconscientemente faz errado, você só precisa de mais tempo. E quem permanece corrompendo para não entregar, com aquele ego gigante, essa pessoa adquire karma, e o karma é instantâneo.


Vou dar um exemplo do Yogi Bhajan lidando com um cara assim: de karma instantâneo. Tem um cara muito famoso no dharma, ele chama Gurutej. Ele é o fundador da Akal Security. Ele criou a Akal Security, que ficou muito famosa, e entregou para o dharma. Entendam: "eu criei uma companhia que dá milhões e milhões de dólares por ano e entrego ela para o dharma".


Nesse espírito, quando ele era bem jovem, ele liga para o Yogi Bhajan e diz. "Sir, Wahe guru, sat nam. Acabei de fazer minha sadhana e estou vestido como um príncipe". (Até hoje ele se veste como um príncipe; ele é um dos homens mais bonitos que conheço). "Estou vestido como um príncipe, a minha sadhana foi maravilhosa e estou indo para o escritório. Queria a sua bênção". E Yogi Bhajan do lado de lá diz: "Eu te abençoo, meu filho. Tomara que, quando você for atravessar a rua, passe um carro em alta velocidade bem em cima de você e você tenha uma morte instantânea, porque só morrendo pra você consertar.”


Vocês querem uma recusa da bajulação? Vocês entendem o que estamos falando? O professor recusa esse nível de corrupção. E o elemento da aula de hoje é o coração. Por que estamos trabalhando com o coração? Porque não é o romantismo. O romantismo não se assenta no coração, muito menos o pieguismo. No coração, se assenta uma inteligência compassiva. E a inteligência compassiva é capaz de fazer. É claro que vocês não vão dar uma resposta como essa para seus alunos. Yogi Bhajan podia dar uma resposta dessas, mas dentro dos limites da sua competência, essa é uma resposta do coração. É uma resposta que traz o aluno para o radar e o tira da corrupção do ego.


Kriya Exercises for the Heart Center, do manual Reaching Me in Me.


O Yogi Bhajan dá uma definição de alinhamento do campo eletromagnético muito espetacular. Dessas coisas que nem cinco livros de filosofia poderia explicar e ele explica em uma frase. Conversei sobre isso no último final de semana com a turma que acabou de formar. Se vocês tem o livro "Prana Pranee", essa explicação está completa na página 9. Muito Bonito!


Nós já tratamos desse tema aqui, que pra gente estar nesse radar do guru, protegidos, precisamos ter o eixo da nossa psique alinhado ao eixo da psique do universo. É um negócio muito doido. Primeiro porque já é muito difícil definir psique. Imagina definir psique do universo. Vocês, professores de Kundalini Yoga, precisam ler o que ele falou e fazer conexões. Vocês não podem ficar passivos, esperando a coisa acontecer porque ela não vai acontecer. Um mestre como o Yogi Bhajan não explicava a coisa assim... A gente precisa fazer conexões.


Então, nesse livro ele fala o seguinte: "O campo eletromagnético da vida... (Então ele está claramente dizendo que não é da minha vida ou da sua vida. Da vida, onde houver vida.)... É resultado da organização e da confluência de todos os cinco tattvas".


Esses cinco tattvas precisam estar... não é em harmonia. Não existe harmonia no corpo físico e nem na terra. Existe uma relação dinâmica. O que é uma relação dinâmica? É por isso que a gente não pode admitir essas pessoas que fazem ajuste de chakras. Pelo amor de Deus! Porque quando e se tem alguma coisa desajustada, é a própria relação dinâmica que ajusta o desajuste. Quando os tattvas se relacionam – ora o akash, que é éter, a terra, ou a água, o fogo –, eles têm uma relação dinâmica, como pistões, e eles vão se ajustando, porque a gente não vive de uma maneira estanque. Dessa relação dinâmica gera, no centro desses tattvas todos, o campo eletromagnético da vida. Nós fazemos parte de campo eletromagnético? Sim.


O nosso campo eletromagnético está melhor ajustado ao campo eletromagnético do universo, ou seja, da vida, quando nós estamos também em equilíbrio dinâmico dos nossos tattvas. Quando o eixo da psique do universo está de um jeito e o meu está alinhado, significa que estou com o universo em um ajuste dinâmico dos meus tattvas. Aí vem uma pergunta para vocês professores: como é que vocês imaginam que eu saio desse eixo? São várias maneiras, é muito fácil acertar. Me dê uma maneira. Usem o raciocínio lógico, pitagórico.


Aluna: Alimentação?


GSK: Não. Alimentação pode ser uma forma. Mas o que vocês tem que desajustar mesmo?


Alunos: Os tattvas.


GSK: O equilíbrio dinâmico entre os tattvas. Como é que você pode desajustar o equilíbrio dinâmico entre os tattvas? Você falou alimentação. Então, excesso de proteína. Excesso de alimento que demoram muito a sair do corpo, como, o primeiro deles é ovo, o segundo é carne. Quanto mais tempo esses alimentos ficam no corpo, mais eles agregam toxinas. Agregando toxinas por mais tempo, mais essas toxinas se sedimentam. Onde essas toxinas se sedimentam? Articulações, parede de artérias e veias. Qual é o alimento que saiu, que virou preponderante dos tattvas?


Alunos: Terra.


GSK: Então você desequilibrou. No momento em que o elemento terra fez isso, você saiu dessa relação harmoniosa. Foi um bom exemplo, a alimentação. Qual é o outro exemplo que tem a ver com a aula passada?


Quando nego a entrega. Se nego a entrega, estou agarrado num bloqueio. Se estou agarrado em qualquer bloqueio, seja porque quero preservar minha reputação, seja o que for, isso tem a ver com o ego. Se você se apega a um bloqueio e você fala "tenho um bloqueio, tô bem aqui", ficaria muito na cara que você é um idiota completo. Então, você faz jogos para não parecer que tem um bloqueio. Lembra disso? Foi na aula passada. Quando você se apega a um bloqueio, e mente se corrompe para poder fazer de conta que você não tem um bloqueio, você cada vez vai ter que mentir mais, cada vez vai ter que fingir mais para garantir o seu status.


Quando você faz isso, você também desequilibra os tattvas, sabe lá qual deles você vai usar. Você pode estar usando o ar, se tiver com muita intriga mental, certamente é o ar. Se você estiver mentindo com convicção é fogo. Cada um vai usar um elemento que estiver na mão. E quanto mais a gente mente, ou se nega a entrega, mais seu eixo vai perdendo alinhamento. Até ficar tão distante que a gente precisa de um grande conflito. Comentei na turma de formação que quando nós não somos capazes de fazer a entrega, a natureza do universo realinha nosso eixo, com terremotos nas nossas vidas, abalos sísmicos.


Ou a gente espera um abalo sísmico ou a gente entrega. Alimentação é um jeito, agarrar o padrão é outro, mentir é outro jeito e por aí vai. Tudo que a gente usa para se negar ao ajuste. O ajuste não é fácil. Não é "meu eixo desalinhou, deixa eu alinhar". Não é essa coisa assim, não. O ajuste pressupõe um abalo. E isso é o papel do professor. Esse é o professor que abala. Quando Yogi Bhajan fala pro cara "tomara que um carro passe em cima da sua cabeça", vocês entendem esse abalo? O cara fala "nó, o que eu fiz?" Quando o Gurudev esteve lá em casa e vem também uma menina chilena, que tem uma encrenca com alguém aqui da sangat e que sente ciúmes, ele senta conosco e com ela e fala "os chilenos são o pior povo que eu conheço." Abalo! Provoca.


O nosso professor tem um responsabilidade de criar determinados abalos para que esse eixo do aluno se alinhe. Isso é feito com amor, mas com o amor que vem da inteligência do coração e não com o amor piegas. Porque você não depende do aluno, é o contrário. É um absurdo se o médico depender do paciente e se o padre depender do pároco. É um absurdo! Nós estamos com o conhecimento, com o amor e com o compromisso, para poder servir ao ajuste desses tattvas. Você pode fazer isso falando, orientando quando te perguntarem, não se negando.


Meditação Correct the Five Tattvas, do Manual Reaching Me in Me.


May the long time sun shine upon you...


Temos mais quatro minutos com você e quero só lembrar que o Siri Guru Granth Sahib tem uma passagem que explica os Yugas. Ele fala do Kali Yuga, que é essa era que a gente está deixando e entrando em uma transição para Tetra Yuga. Ele vai explicando que o Satya Yuga, que é dos tempo mais perfeitos, tem pilares. E a gente vai perdendo os pilares na medida em que a gente vai entrando nessas yugas. E que o único pilar que restou em Kali Yuga, que é o yuga que estamos largando para trás, é o pilar da verdade. E todo mundo vai tentar tirar esse pilar. Nosso desafio em Kali Yuga foi com a verdade e é por isso que um dos elementos da psique humana que melhor dominamos é a da corrupção. Essa dificuldade da entrega. Porque a entrega pressupõe a rendição à verdade. À verdade sua, à verdade do outro.


Nós seres humanos temos muita dificuldade da entrega, da rendição em nome da verdade. Porque esse foi o único pilar que ficou. É o nosso pilar teste. Parece para nós muito mais fácil se corromper do que a deliberada rendição à verdade. Estamos vivendo num mundo hoje, em todos os lugares, de se escancarar os modos corruptos nossos – de fazermos negócios, de fazermos política, de fazermos amor, de fazermos tudo tem a ver com isso. E é justamente para essa era que nós professores de Kundalini Yoga somos equipado para servir. É muito importante que a gente aprenda a se render. Porque é muito difícil um professor sobreviver e deixar um legado se ele não for capaz de viver o que ele ensina.


Essa época também já era, em que um professor de vôlei, por exemplo, não sabe pegar numa bola. Na era de peixes era possível. Eu podia ser um professor sem exatamente saber o meu ofício. Hoje não é possível mais. Porque a hora em que você encontra com seu aluno fora da sala de aula ele vai te escrutinar, porque o que está em teste nessa era é a verdade.


[Transcrição: Tarkash Kaur]


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