[GSK] Nada será como antes
Aula ministrada por Gurusangat em 10 de abril de 2020
[GSK abre a aula]
Daremos sequência ao trabalho iniciado na semana passada de limpar determinados compartimentos da nossa mente. Lembrem-se que falamos do som ahat, tirado ao se tocar um instrumento, e do som anahat, que não precisa ser tocado para vibrar no espaço e no tempo. Utilizaremos a qualidade deste último som para continuar o nosso trabalho profundo de hoje.
Este é um kriya que desafia mais. No Kundalini Yoga, é nos desafios das posturas que temos acesso a essa limpeza. Muitos sentimentos ficam incrustados nas camadas da mente e são de difícil acesso. Temos uma capacidade muito grande de escondê-los e, quando surgem, de justificá-los.
O Yogi Bhajan ensinava que buscamos três tipos de manifestação através da mente. A primeira é ser reconhecido – aqui entra todo tipo de manipulação, mentiras e jogos para atingir tal finalidade. Uma segunda é, sabendo que somos reconhecidos, nos assentarmos nesse tipo de glória e, para mantermos esse lugar, manipularmos e jogarmos de novo. A terceira é, sabendo ou não disso, sermos notáveis. Portanto, na primeira buscamos ser notados, na segunda sabemos que somos notados e na terceira somos notáveis.
Ser notável significa estar nesses caminhos todos, nessas camadas todas que a mente permite, atravessar por elas e ser capaz de chegar num lugar onde não existe nenhum jogo, a não ser um fluir contínuo do ser. É nesse lugar que queremos chegar e é nesse lugar que o nosso legado será notado, justamente porque nos tornamos um tipo de ser humano notável. Esse ser humano, segundo nossos ensinamentos, não é alguém que não joga, nem comete erros ou não cai nas suas próprias armadilhas. É exatamente o contrário. É alguém que sabe que é isso tudo, mas que não quer esconder isso do mundo e, ainda, quer ir para além desse lugar.
Kriya: Cleaning the Mind II, do Manual Rebirthing
Meditação: Har Har Har Har Gobinde
Escolhi uma meditação que fizemos algumas semanas atrás, porque ela é muito própria para fechar a aula de hoje. É também chamada de mantra magnificente. Entoar esse mantra, nessa posição, nos dá um escudo protetor que permite à nossa mente não tentar analisar tanto os tempos novos ou os desafios do momento. Mas ela não impede que a mente sinta o peso do momento. Não significa que precisamos ficar neutros para atravessar o momento. Isso seria, talvez, muita prepotência e desconhecimento quando enfrentamos momentos tão inaugurais e uma grande carga do passado precisa ser abandonada imediatamente. É um momento global de grande mudança. Essa meditação ajuda a atravessar esses tempos com proteção, impedindo que acabemos sucumbindo à nossa angustia ou ansiedade.
Lembro quando eu era bem jovem e tinha uma fascinação por História, mas não podia estudar, porque eram permitidos apenas os livros que contavam o que a ditadura queria contar. Tínhamos um grupo de trabalho que estudava o Hobsbawn, um marxista fascinante que ensinava História. Uma das coisas que ele dizia é que, embora o século XIX já tivesse acabado, faltava um marco existencial, não cronológico, que definisse o começo do século seguinte. Ele dizia que o marco existencial do século XX foi a Primeira Guerra Mundial, que começou em 1918. Com ela, sentimos que o século XIX havia terminado. Ele afirmava que com aquela dor deixamos de existir numa época, abandonamos uma psique da época. E que agora seria dali para adiante.
Nós, do Kundalini Yoga, vimos já com esse preparo de que a Era de Aquário iria chegar e inaugurar de forma vigorosa o século XXI. Pode ser que a Era de Aquário tenha se instalado cronologicamente no cosmos a partir de 2012, mas faltava um marco. O marco do século XXI é essa pandemia. É o ponto em que nada mais será como era. Daqui pra frente criaremos um estado de coisas, uma condição, para que existamos espiritualmente, politicamente e socialmente. Somos testemunhas desse marco inaugural do século XXI.
Marcos são importantes porque, a partir deles, não existe mais pedra sobre pedra. Estamos juntos nesse momento e é muito especial dialogarmos para compreendermos quais estruturas criaremos para que possamos existir nesse novo momento. Temos essa tecnologia que nos dizia sobre esse momento há muito tempo. Temos uma vantagem grande em relação a muitas pessoas. Ainda assim, nossa psique precisa se ajustar a um momento inaugural. Quanto mais resistirmos, maior a dor e a confusão.
De alguma maneira essa meditação nos diz: Não importa o que está acontecendo, nada será igual, vocês estão entrando num território bem zerado. Daqui para frente é vocês com sua forma de construir sua vida e sua existência nesse território. Mas sigam, porque estão no radar do Guru. Existe essa inteligência e esse tempo cósmico que o Foucault tanto falava, mas não conseguiu explicar. É nisso que estamos entrando agora e é nessa construção que nos damos as mãos para fazer juntos.
May the long time sun shine…
[Transcrição e edição: Nav Amrita Kaur]
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