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[GSK] Luz e sombra caminham sempre juntas

Aula ministrada por Gurusangat Kaur Khalsa em 3 de maio de 2019


[GSK abre a aula]


Agora de manhã tive o seguinte insight: uma sangat não se faz juntando pessoas que são perfeitas ou imaculadas, pessoas que não têm maledicência, dúvida, ou que não pisam na bola. Uma sangat é constituída de pessoas tão perfeitas quanto são as pessoas imperfeitas, e todas as pessoas são imperfeitas. Não tem jeito de nos livrarmos das imperfeições. Uma sangat é composta por pessoas imperfeitas ou perfeitas com as suas polaridades, mas pessoas que fazem. Como é que nos inspiramos para fazer é uma outra história. Há uma série de elementos.


Sei que muitas vezes dói em nós as nossas imperfeições, mas no momento em que as deixarmos, certamente não estaremos mais aqui nesse plano. Esse é o plano em que sempre iremos nos purificar. Claro que esperamos que nossas imperfeições sejam cada vez mais purificadas e alcancemos perfeições correspondentes ao lugar em que estamos. Chegará um momento de superação para cada um de nós, na medida em que formos superando as intrigas das mentes negativa e positiva. Toda vez que caímos em pegadinhas e na medida em que vamos superando isso, permitimos a purificação. E quanto mais permitimos a purificação mais próximos estamos de restaurar o sagrado.


O sagrado em nós começa a ser rompido no momento exato do nosso nascimento. Não rompemos o sagrado depois que já estamos grandes, mas no momento em que assumimos uma forma. Toda forma é, em si, cadente e decadente. Essa é a polaridade da forma, o seu paradoxo. Na medida em que vamos perdendo a pureza, a inocência, passamos a ser mais confrontados com a nossa decadência, em todos os sentidos. A instituição que restaura a cadência é a purificação.


Minha oração forte e meu trabalho incansável são para que identifiquem as suas intrigas mentais e compreendam o que estamos tratando nesse semestre – a raiva, a avareza e o apego, as emoções do triângulo inferior – para superarem isso. Ao superarem não deixarão de tê-las, mas serão capazes de aplicar sua inteligência, dando um grande salto na sua evolução psíquica. Na hora em que derem esse grande salto a purificação também não deixará de existir. Ela passará a existir em níveis um pouco mais sutis. A partir de agora ela passa a apelar para suas dores existenciais: as dores de estar no mundo. É bem diferente daquela dor existencial do triângulo inferior, que sugere que alguém está querendo te passar a perna, tirar o que é seu. Essas são dores grosseiras. Na medida em que se purificam, vocês entram em contato com dores da alma: são as dores de existir no mundo da polaridade. A purificação nesse estado é a compaixão. Não estamos falando ainda do triângulo superior. Falaremos dele, talvez, no semestre que vem.


Enquanto trabalho de sangat, o que talvez temos alcançado é que, na psique da sangat, estejamos começando a entrar no estado da purificação do triângulo superior, que é a compaixão. Vejam bem, não estou falando da psique das pessoas da sangat, mas da psique da sangat. Só a compaixão nos faz colocar a mão no bolso e pagar para uma criança estudar nas nossas escolas, mesmo não tendo aquele dinheiro. Apenas a compaixão, a entrega da cabeça. Somente nesse estado conseguimos pensar mais no outro do que em nós mesmos. Em termos de consciência coletiva, portanto, nós atingimos um lugar.


Desde quando estudei a minha faculdade, em nossos encontros de filosofia, dizíamos que o todo não se faz da junção de todas as partes. Existe um elemento que extrapola e nos torna maiores que a junção das partes. Esse elemento é o espírito. É essa força que extrapola que nos possibilita alavancar qualquer coisa, qualquer realidade, qualquer obstáculo.


Vamos caminhar sempre assim: temos o triângulo inferior que nos puxa para baixo, para a defesa imediata, e temos um triângulo superior que diz “não tô nem aí”, e nos apresenta horizontes. Ocorre isso no indivíduo e ocorre isso em uma sangat. Temos uma sangat que, ao juntarmos suas partes, parece que não irá funcionar. Mas de repente, no todo, quando o espírito é mantido, a coisa funciona.


Hoje vamos fazer uma aula para equilíbrio mental. Neste caso, não é porque hoje estejamos no nosso psiquismo doentio. O equilíbrio mental é para podermos amalgamar em nós essas duas coisas que acontecem automaticamente: a nossa luz e a nossa sombra caminhando juntas. Na nossa doença mental invocamos a sombra para a defesa. Invocamos o triângulo inferior e acreditamos que a nossa sombra é a maior luz. Yogi Bhajan dizia: “A pior coisa do mundo, a fonte de todos os males, é você achar que está certo e fazer a coisa errada”. Acharmos que estamos certos e fazermos a coisa errada é invocar a sombra acreditando que ela é a luz. Tudo que fazemos é em nome da nossa defesa. É um horror, mas isso existe, não dá para negar. O equilíbrio da aula de hoje é admitir que isso acontece, mas como permitir também a luz. Como invocar a luz do triângulo superior e fazer com que ela purifique a sombra do triângulo inferior, e permitir que essas duas coisas andem juntas.


Uma parte importante da maturidade espiritual pressupõe aceitar que tudo é sombra e luz, inclusive a sangat, inclusive eu, você e todo mundo. Tudo é um jogo contínuo entre as forças que querem a defesa e as forças que querem a expansão. O elemento divisor de águas, aquilo que irá nos qualificar, é notar o quanto achamos que estamos certos e agimos errado. A aula de hoje serve para podermos aceitar essas duas forças em nós.


Kriya Para Equilíbrio Mental, do Manual para o Proprietário do Corpo Humano


Vamos continuar o trabalho com uma meditação para nos liberar do sofrimento causado pela dualidade. Com essa meditação não queremos ficar livres da dualidade, porque somos duais. Mas é para que isso não nos incomode tanto. Logo que percebemos que estamos na dualidade a força da informação do triângulo inferior vem e encontra a mesma força oposta no triângulo superior. Isso é a dualidade, não conseguimos superar esse dilema. A vida em dilema é terrível. O que fazemos em Kundalini Yoga é encontrar a força que vem do triângulo inferior com algo maior, que vem do triângulo superior. Isso é a purificação: quando a força do triângulo superior é suficiente para nos fazer compreender e, se ainda não compreendermos, fazer com que nos entreguemos. Essa é a dor.


Quando essas duas forças se encontram, é tarefa do professor explicitar o dilema do aluno. É muito duro se o aluno não experimentou a entrega porque ele vai justificar, e a justificativa vem sempre de um lugar raso intelectual. É um momento que dói profundamente no professor, porque ele entende que o aluno está sucumbindo, está deixando que a força do triângulo inferior seja muito maior que a do triângulo superior. Yogi Bhajan dizia que a inteligência que vem do triângulo superior é incomparável, porque é uma inteligência de tal nobreza que não pensa duas vezes em se render. É quando a força do espírito toma conta. A inteligência que vem da força do espirito é a intuição.


Meditação: Liberando o sofrimento causado pela dualidade


Um das coisas mais sábias do ponto de vista espiritual é a segunda lei da termodinâmica, que diz que se deixarmos um corpo sozinho, isolado em si, ele sempre irá caminhar da cadência para a decadência, da organização para o caos. Isso é chamado de Lei da Entropia. A única coisa capaz de reverter a velocidade da entropia é esse corpo se relacionar com algo muito superior a ele do ponto de vista eletromagnético. A Terra tem 4,6 bilhões de anos. Ela só não surgiu e foi embora porque se relaciona com uma força infinitamente maior que ela do ponto de vista eletromagnético, que é o Sol. O Sol evita a entropia da Terra.


Temos uma força entrópica muito grande dentro de nós, o triângulo inferior. Só não decaímos e entramos nesse caos quando nos relacionamos com o triângulo superior, que é o nosso campo eletromagnético, que é o nosso corpo radiante infinitamente mais forte do que a força eletromagnética do triângulo inferior. Nada é mais perfeito do que essa lei. Para compreendermos a relação entre o nosso subconsciente e o nosso consciente basta entendermos essa lei.


O nosso horizonte tem data marcada e é bem rapidinho. A única maneira de permanecermos nesse horizonte é nos relacionarmos conosco, com o nosso subconsciente, através da nossa consciência. Por isso o Yogi Bhajan dizia que aqueles professores que sobem muito rápido descem muito rápido. Porque toda subida rápida é como um balão. A pessoa se infla e no primeiro obstáculo, como um balão, cai na mesma velocidade em que subiu. A subida não deve ser como um balão. Deve ser uma subida com base no seu inconsciente, pois não dá tempo de criar uma relação constante com a consciência. O apelo do triângulo inferior para não ter raiva, avareza e apego, sua luta para garantir que não tenhamos que passar por isso, é grande demais. Para virarmos pessoas da luz, maduras, precisamos de tempo para fazermos essa subida contrapondo a sombra com a luz e vice e versa.


Quando estamos cheios de luz devemos lembrar de olhar o rabo da sombra, porque a sombra nos persegue seja lá onde estivermos. A sombra é a realidade, não há como fugir. E quanto mais estamos na luz, mais a sombra estará presente. Essa tomada da própria vida de modo sábio, de modo que sejamos uma inspiração para outras pessoas e para nós mesmos, se faz de uma forma lenta, de modo a ganharmos a experiência da luz e da sombra. Muitas vezes, no início desse aprendizado, é duro e confrontador, como é nas poses. E é esse o momento de tomarmos uma decisão sobre o que queremos fazer. Esse negócio de Kundalini Yoga é bastante prático. Como diz o Guru Nanak: “O alardear dos falsos é falso”. Não recusamos a sombra.


"May the long time sun shine upon you..."


[Transcrição: Devaroop Kaur]

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