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[GSK] “Levante e mexa-se”

Aula ministrada por Gurusangat Kaur Khalsa no dia 12 de abril de 2019


[GSK abre a aula]


Hoje faremos uma aula bem simples, mas que, ao mesmo tempo, nos desafia em um determinado lugar. É uma aula que acorda o nosso campo eletromagnético, provocando uma expansão. E quando relaxamos profundamente temos uma tendência a um recolhimento natural. Usaremos essa expansão para depois fazer uma meditação.


Temos trabalhado o triângulo inferior e seus três núcleos principais. O primeiro que vimos foi a raiva. Em primeiro lugar, para dar uma dose de realidade, ninguém se transforma virando outra pessoa. Nós não superamos as emoções básicas do triângulo inferior. Elas continuam palpitando, pulsando dentro de nós.


No Kundalini Yoga dispomos de dois recursos para lidar com essa realidade. Um deles é usar o lobo frontal para conter o impulso, essa resposta imediata às emoções. O outro é utilizar a inteligência aplicada. São dois elementos que caminham juntos. Prova de que essas nossas emoções fundamentais, com as quais nascemos, não irão desaparecer, mas serão pegas e transportadas para o triângulo superior. Não há nada que se possa fazer na vida para eliminar essas coisas. Por quê?


Há uma razão para isso. As emoções, em si, são inócuas. Elas só estão querendo trazer alguma informação. Cada um de nós nasce com uma pegada no triângulo inferior, porque nascemos com uma dada combinação de tattvas, como ensina a Medicina Ayurvédica. A combinação desses doshas, desses tattvas, faz com que venhamos de um certo jeito. Não há como voltar a ser o que nunca fomos. O alardear dos falsos é falso.


Isso é uma coisa muito reconfortante, por um lado. E um sinal de alarme muito grande, como o alardear dos falsos. Todo o trabalho para nos fazer virar uma outra pessoa boa demais está, na verdade, nos tirando da nossa própria natureza, nos cobrindo com um véu que nos afasta do nosso mecanismo natural de interagir com o meio.


Muitas vezes vamos precisar dessas energias do triângulo inferior. Elas não existem em nós por um pileque divino. Entendemos a raiva, até aqui, como uma insegurança quando estamos ameaçados. Nosso ego se sente ameaçado, e a raiva surge da necessidade de termos uma identificação. A raiva é um sentimento muito peculiar, talvez um dos sentimentos de maior projeção do nosso ego. Tem muito fogo, tem muito elemento tattva na raiva. Quando ela reside apenas no triângulo inferior e não se mobiliza para cima, ela busca criar condições onde novas identificações são formadas.


O problema é que, geralmente, essas são identificações falsas, porque as geramos dentro de um perímetro de nossa segurança. Claro que não vamos escolher nada que nos confronte ou nos ameace, que é exatamente o que precisamos para poder levar esse sentimento para o triângulo superior. Assim estudamos a raiva, como um grande fogo que será usado para criar outras coisas, outras identificações. Até que novamente comprime, contrai, confronta, e então geramos outros fogos para poder sair dali.


Hoje vamos ver a avareza. Nunca vi tanta gente boa avarenta! É uma coisa impressionante! Pessoa boa demais. Avarenta. Culturalmente não se fala muito na avareza. Falamos da raiva, falamos do medo. O medo é o que costura isso tudo, porque ele é o outro lado da raiva e também o outro lado da avareza. Em todos os dharmas, quando estudamos a raiz de toda aflição, estudamos o medo. Que é o medo da morte.


A avareza não vem da insegurança de quando o ego é ameaçado. Ela vem quando imaginamos que podemos ficar sem. É o medo de não ter. Isso não tem nenhuma relação com a lógica e com a realidade, porque as pessoas mais avarentas são aquelas que mais têm. As pessoas que não têm não são tão avarentas quanto as que muito têm. Um dos testes da nossa maturidade, quanto mais progredimos e adquirimos, é o teste da avareza – o quanto conseguimos liberar, compartilhar. Um dos pilares desse dharma de onde flui o Kundalini Yoga é o fato de que cortamos a avareza na sua raiz, porque existe um compromisso de prosperar e compartilhar tudo o que temos. É um negócio bem confrontador na raiz da nossa psique.


A avareza vem desse medo de não ter e começa a se tornar uma verdadeira sinfonia de Mahler. Para Mahler a vida nunca cai para cima e nem no mesmo lugar. É um desespero, dá vontade de sair correndo. A avareza aumenta a raiva e aumenta a necessidade de fortalecer as identificações falsas. É assim, não só não conseguimos resolver o problema da raiva, mas ela é alimentada através dessa necessidade de proteção.


O não ter e o não ser são muito juntos. Em Kundalini Yoga preferimos começar o trabalho com algo muito concreto. O ter é sempre concreto. O ser é muito ontológico. É quase que um investimento filosófico no não ser, mas não dissociamos o ter do ser. Umas das identificações do ter é que somos a partir daquilo que temos. No Kundalini Yoga usamos o corpo físico para trabalhar o evento psíquico. É mais fácil chegar lá dessa maneira, é mais concreto.


Yogi Bhajan estava com dois alunos uma certa vez, a Guru Amrit e o Hari Jiwan. Chegou o Hari Jiwan, um homem cheio de si, com um anel de todo tamanho. Yogi Bhajan disse: “Hari Jiwan, que anel maravilhoso! Deixa eu ver!”. O Hari Jiwan, todo orgulhoso, respondeu que havia comprado o anel sabe-se lá aonde e por quanto, e que havia feito uma boa barganha. E Yogi Bhajan falou: “Nossa! Esse anel é realmente precioso! Lindo! Guru Amrit, ele é ideal para você!”.


O ser e o ter são quebrados no momento em que se acaba com a avareza. Guru Amrit tem esse anel até hoje. Toda vez que ela o usa, o Hari Jiwan olha e pensa: “ Esse anel um dia foi meu...”. Ele não se esquece.


Falamos da avareza porque ela tem tudo a ver com o trabalho do Kundalini Yoga. A avareza surge não da necessidade de termos proteção e identificação, como é o caso da raiva, mas da necessidade de realização profunda. É aquela pessoa que se sente sempre vazia. Estamos tratando da raiz da avareza. Ela pode se manifestar de várias formas. Uma pessoa que é avarenta em um lugar é avarenta em qualquer lugar. Pode ser apenas que ela ainda não tenha tido a chance de ser avarenta.


O maior problema da raiva é que, ao precisarmos de uma nova identificação, acabamos criando falsas identificações. O problema da avareza é que identificamos a necessidade de realização com a de sobrevivência. Para sobrevivermos é lícito ter e garantir que tenhamos. Mas sobrevivência é muito diferente de realização. Para a realização, muitas vezes é preciso dar.


Ainda abordaremos mais uma das três emoções estruturantes da psique humana. No Kundalini Yoga todo o nosso arsenal serve para tratar, sem que tenhamos que falar, dessas emoções.


Kriya: Levante e mexa-se, do Manual para o Proprietário do Corpo Humano


Meditação para fortalecer o corpo radiante com o mantra “Ajai Alai”


Há uma fala bastante inspiradora do Yogi Bhajan para compreendermos o trabalho que estamos fazendo. Ele diz que o grande erro das pessoas é que elas falam tudo o que têm em sua mente. Isso não faz nenhum sentido. A mente não nos foi dada para que falemos o que está nela. A mente é, em sua maior parte, ondas de pensamentos, sensações de muitas fontes. Ela foi feita para que conheçamos a verdade e não para que falemos sobre as nossas sensações.


A mente pode estar a serviço do ego, do subconsciente ou da alma. Quando a mente está à serviço do subconsciente, ela está expressando as nossas sensações e a nossa necessidade de segurança, relativas ao triângulo inferior. Estamos na disputa, estamos na defesa. A mente não foi projetada para fazer isso. Ela foi feita para sabermos distinguir, discernir, conhecer a verdade. Para isso é preciso mobilizar esse Prana para cima.


Guru Nanak diz: “Nanak Uttam Neech Na Koi” – Nanak, não há nada que está em cima que não esteja embaixo.


Assim, o processamento da experiência não se dá negando a realidade do triângulo inferior, porque não existe nada que esteja embaixo sem um sentido, sem um propósito.


"May the long time sun shine upon you..."


[Transcrição: Karamjeet Kaur]


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