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[GSK] Abraçando o infinito

Aula ministrada por Gurusangat Kaur Khalsa, em 5 de fevereiro de 2016


[GSK abre a aula]


Esse é um ano especial e crítico, então é muito importante ganharmos uma coesão no espírito. Criar e aprofundar ainda mais os nossos elos, especialmente de confiança. Estive refletindo ontem sobre o tema de trabalho para esse semestre e tive vontade de propor para vocês um tema que dê à gente certa disciplina e certa disposição para abraçar o desconhecido. E o abraço do desconhecido pressupõe que a gente confie. E confie onde não há garantias. Pressupõe que a gente abra dentro de nós um campo para entrarmos em relação com o desconhecido, sem nenhuma garantia. Isso é um pouco o tônus que se requer de um Khalsa, uma pessoa pura de consciência e de mente. É uma disposição. Pode ser que esse abraço com o desconhecido nem ocorra, mas a pessoa tem uma disposição e ela confia. E vocês podem agora perguntar: “confia em quê?” E a pergunta mais pueril e mais romântica seria: “confiar em mim mesma?” Isso é um pressuposto já garantido. Não é confiar em si mesmo, não é confiar no outro, não é a confiança do lugar comum, que talvez a gente pudesse estar falando se essa aula não fosse de Kundalini Yoga. Então, onde estaria essa confiança?


Essa confiança está na relação que você quer ter com o desconhecido. É a confiança de que o desconhecido é a fonte. É a fonte daquilo que você precisa. Confiar no desconhecido. Se a gente desenvolve uma disciplina e uma disposição para confiar no desconhecido, a gente vai reduzir fortemente a carga estressora que atua sobre a gente, porque a confiança dá um certo relaxamento, e a gente vai aumentar fortemente as chances de resolver problemas. Tanto aumenta a criatividade quanto diminui a carga de estresse. É difícil fazer isso? É difícil! Aí entra a tendência das características de cada um. Eu, por exemplo, tenho a tendência a me preocupar. Eu preciso me convencer, me disciplinar e me lembrar que eu confio no desconhecido. Cada um de vocês vai conhecer uma característica própria que impede vocês de se relacionarem profundamente e em paz com o desconhecido. E é isso o que a gente vai fazer esse ano, e como que isso vai se refletir no corpo da gente e como nós vamos deixar que o corpo cristalize essa dificuldade. Porque isso é que é o Kundalini Yoga. Ele usa o corpo, que cristaliza a dificuldade, que cristaliza a alegria, que cristaliza tudo, e a gente trabalha no corpo para dissolver.


A gente usa aquilo que é mais denso e mais palpável para a gente poder fazer um trabalho que tenha um reflexo nos campos sutis da pisque, da mente e da alma. Nós temos razões para fazer isso. Não é uma aventura futurística, não. Nós temos razões de sobra para neste ano querermos abraçar o desconhecido o mais rápido possível. É um ano desafiador. Lembrem, é um ano 9. A tônica deste ano é: tudo pode se desorganizar, reorganizar, todos os conflitos e desafios podem acontecer, mas a gente permanece na nossa identidade. Assim vai ser esse ano: o teste da identidade. E justamente por isso nós vamos ser esse canal que espalha essa radioatividade. Qual a radioatividade que vamos espalhar? A da confiança no desconhecido. E um dos importantes recursos que temos para isso é o Gurdwara. Nós vamos precisar demais dos Gurdwaras e vamos precisar de uma linha de Shabads que cria demais esse espírito da vitória. Precisamos reverter uma depressão que está instalada na psique de muita gente. E nós seremos os terapeutas desse processo. As nossas aulas de sexta-feira são importantes porque estabelecem uma frequência para a semana que começa e o Gurdwara vai ser muito importante com o shabad porque a gente precisa espalhar em larga escala. Então, vamos começar o nosso kryia?


Kryia: Ajuste do Corpo para Elevar o Espírito, do livro The Fountain of Youth.

Meditação: Four-Stroke Breath for Meditative Balance, do Manual Praana Praane Praanayam.


Essa meditação dá uma forte capacidade para a mente se desligar de tudo o que é tensão, dúvida, polaridade e elementos desnecessários, e ela volta para um lugar que a mente conhece e que é o campo dela própria, que é o infinito. Então essa meditação é muito importante para criar uma relação nossa com o desconhecido. Deixar a mente ir para o infinito ao invés de deixar ela nas inúmeras finitides que ela tem para se preocupar.


Esse ano nós vamos precisar criar uma unidade e uma grande maturidade emocional para a gente não andar por aí, como: a gente compra uma sacola de papel de artesanato desses que tem até pedigree e enche-a de água, e anda por aí carregando água numa sacola de papel. Então vai dar para a gente andar por aí carregando água em sacola de papel. Vocês entendem o que estou dizendo? “Ah, eu não sabia que era água! Ah, eu não sabia que não podia colocar água na sacola de papel, eu não sabia que a sacola era de papel”. Não dá mais para a gente dar mais esse tipo de desculpa para os nossos próprios erros. Não é que a gente não vai cometer erros, mas é muito importante que a gente assuma e diga “poxa vida, que mancada! como fui tola!”.


O tema de abraçar o infinito carrega um valor: consciência aplicada. Na hora que pisou na bola, consciência aplicada. Assumir. Não vamos dar espaço para a mente criar uma fantasia, uma intriga que mais uma vez aponta o problema para o outro. Quanto mais a gente dá desculpas, mais presos no finito nós estamos, mais longe de sermos criativos e maduros estamos e mais distante estamos de criar um impacto radioativo do bem à nossa volta. Quanto mais presos em desculpas, mais enclausurados estamos em nosso finito, mais você se decepciona, porque o campo da matéria e do finito é capcioso. É uma frase do Yogi Bhajan. Não sei por que, mas a gente teme que o infinito passe uma rasteira na gente. Mas quem passa a rasteira na gente é o finito. Ele é instável, volátil. Vocês entendem isso?


Quando a gente for meter água na sacola de papel a gente vai assumir que a sacola vai furar e que é só uma questão de tempo. Vocês escutam uma coisa dessas (de colocar a água na sacola de papel) e pensam “mas é claro que isso não existe”. Mas eu, que escuto vocês várias vezes ao dia, posso garantir: isso acontece, e acontece o tempo todo. A todo tempo. Compreendem isso?


Tem um caso clínico interessantíssimo que eu ganhei para trazer para essa aula. Eu sabia que a sacola ia furar, mas eu não sabia que ia ser tão rapidamente. Tem uma moça aí, e nessa coisa de internet e conexão, ela resolver criar uma relação virtual com um estrangeiro. Ele se separou recentemente e a história dele para essa moça foi: “você sabe, o meu casamento foi arranjado pelo Yogi Bhajan e não deu certo. Eu estava casado há vinte anos, mas agora separei. Tem muito tempo que nós já estávamos separados, esse separando já aconteceu há muito tempo. Que maravilha que você apareceu na minha vida”.


Cinco meses atrás essa moça veio me contar que estava muito feliz que finalmente apareceu o homem da vida dela: um khalsa. E me perguntou: o que você acha? Eu disse: “tudo bem, fala para ele primeiro vir aqui, conhecer a sua sangat. E não crie nenhum outro tipo de expectativa”. Cinco meses se passaram e ela sumiu. E eu pensei: “é claro que alguma coisa está acontecendo”. Antes de sairmos de férias, eu fiquei sabendo que ela estava indo para Espanhola para se encontrar com ele. Com tudo acontecendo no Brasil – o dólar alto, a Petrobras falida, o desemprego aumentando, e tudo o mais que vocês sabem bem – tenho certeza que ela disse: “Vem você primeiro para o Brasil”. Ele respondeu: “Não posso, porque tenho medo de viajar longas distâncias”. Um khalsa que tem medo de viajar longas distâncias e disse que a única distância que ele viaja é entre Los Angeles e Espanhola. Aí ela entrou no modo mãe. “Ah, coitadinho”, “Ele está precisando de mim demais”, “Gamei”. E ela então compra a passagem para ir para Espanhola. E o que aconteceu? O romance acabou no dia seguinte. Ele diz: “Eu achei que eu estava pronto, mas eu não estou pronto. Estou indo a Espanhola para rever a minha mulher”.


Não existem garantias. Não adianta o cara ser khalsa. E não adianta a garota ter um certificado de professora de Kundalini Yoga, com horas de conversa comigo. Não adianta. Nós ainda somos livres para fazermos a bobagem que queremos fazer. Então, eu disse para ela: “Se ele não vir aqui, é uma sacola de papel que você vai carregar água”. Então, o que aconteceu? Ao invés de ela admitir que fez tudo errado e que pisou na bola, o que ela fez? Virou a vitima, a enganada. E escreveu um email para ele citando o primeiro pauri do Japji, citando o Guru Nanak... vocês podem imaginar. Então, gente, aprendam, vocês não vão para um conflito com a cabeça. Por favor, num conflito, resgatem o espírito de vocês porque só o espírito de vocês é capaz de fazer uma gatka.


Ela veio conversar comigo e me contou o que ela escreveu e eu disse: “agora você fecha a sua boca e me escuta: tudo errado! tudo errado! Se você acha que esse homem ainda pode ter a graça da sua luz como uma mulher, se você acha que esse homem pode ainda ser ajudado, você, como uma Shakti, se é que você ainda quer viver no espírito de uma mulher, você tem uma última coisa a fazer, que é mandar isso para ele”. E aí eu escrevi umas cinco linhas, que é dar a ele ainda uma chance de viver e habitar o espírito de um homem, e não só um corpo e uma psique de um homem.


Eu disse a ela: você não tem nada a perder, você já perdeu, e pelo menos você resgata a sua graça e a sua dignidade. Quando vocês forem comunicar em conflito, não comuniquem com a cabeça, "blablabla". Comuniquem com o espírito. Assumam o erro e comuniquem do lugar do espírito. Não existem garantias. A questão é como você vai garantir a sua graça e aplicar a sua inteligência. Não existe coisa fácil. Eu achei que esse negócio iria se enrolar um pouquinho mais, mas ele acabou em cinco meses. Se você vai andar com a sua sacolinha de papel com água dentro, saiba que ela vai furar. Depois não acuse ninguém. O filme preferido do meu pai era “Acusada de morte”. Era o filme preferido quando ele queria falar que a gente tinha feito uma grande cagada, quando a gente pisava na jaca e nós não assumíamos. Quando você decreta a própria morte em não assumir é a “cusada” de morte


Aluna: Realmente esse papel da vítima é o que mais tem por aí e é o que mais a gente vê. Fala a verdade.


Aluna: É um padrão muito forte que a gente tem, não sei se só dos latinos, mas qualquer coisa acontece e a gente entra nesse lugar.


GSK: Acho que de um modo geral. Porque ele também, que não é latino, fez o papel de vítima. É o jogo de vítima da psique masculina. Que é o comum, a maioria dos homens faz esse jogo.


Aluna: E o jogo da mulher é que ela é especial.


GSK: Ah, é! Qual é a fantasia da mulher? É a conexão, é reconectar. No momento em que ela é retirada do útero, ela foi cortada da outra metade dela, que é a mãe. Ela quer reconectar. Mulher reconecta. E a história é que a reconexão só pode se dar completamente pelo espírito e a mulher acha que a reconexão vai se dar pelo corpo, ou pela cabeça. E o que o homem quer é se autoafirmar o tempo todo. É um jogo muito precário e primário, mas nós estamos jogando ele o tempo todo. Em conflito, espera-se que a gente faça igual à cabra do filme "O Pequeno Buda". A cabra está morrendo, mas ela ensina. Mesmo morrendo, ela ensina. A gente não faz igual ao cordeiro, que fica dando desculpa. A posse do seu vigor e da sua inteligência é ser universal. Seja espírito. Vai morrer, morre com dignidade. Está certo?


May the long time sun shine upon you


[Transcrição Hari Shabad Kaur Khalsa]

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