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[GSK] A humildade da espera

Aula ministrada por Gurusangat Kaur Khalsa no dia 24 de novembro de 2017


[GSK abre a aula]


Hoje a aula que preparei é do livro Kriya. É um kriya que é um preparo para a meditação e é muito bom para estabelecer um equilíbrio muito sutil. Ele usa os nadis, os canais de energia, para equilibrar coração, pulmão e região sexual, vitalidade. Achei que faria bastante sentido com a meditação que vamos trabalhar hoje.


Antes de começar, gostaria de falar um pouco sobre o tema “me sentir estranho”. Eu, você e todo mundo. Sobre a sensação de que estar estranho, de estar desalinhado. Essa sensação tem duas origens: ou é desalinhamento interno ou é um desalinhamento por influência externa, em que a gente se sente desalinhado. O Kundalini Yoga lida com o desalinhamento de uma maneira muito própria, e esse kriya tem a ver com isso, nós vamos desalinhar muita coisa invés de alinhar.


O desejo de alinhar vem de uma psique infantil e romântica. O alinhar – o alinhar, não o desejo de alinhar – vem de uma natureza amadurecida da nossa psique. Mas o desejo de estar alinhado vem da nossa incapacidade de nos apresentarmos em curso numa situação desalinhante, e no momento que você entra numa situação desalinhante tanto interna quanto externa, o desejo de alinhar é infantil, é romântico, porque muitas vezes nesse desalinhar muitas coisas serão reveladas. Então bato muito nessa tecla. E quando eu digo isso, não é só teoria. Tenho muitas experiências de viver desalinhada. O meu último desalinhamento, que estou me realinhando agora começou em 2011, 2012. então foi um ciclo de consciência desalinhado. O que faz a gente passar seis ou sete anos de desalinhamento e continuar fazendo o que tem de ser feito, é o que a gente chama no Kundalini Yoga de fé no fluxo, um compromisso. Um compromisso com o fluxo. Às vezes o desalinhamento revela um processo. O meu, nesse último caso, foi um desalinhamento que estava revelando que eu estava com um crescimento moral gigante em mim. E assim por diante, você tem determinados processos que são impossíveis de serem acessados se você estivesse alinhado. E eles demoram tempo. E quando esse realinhamento acontece, o seu vigor está todo lá, porque uma coisa que você não perdeu foi o realinhamento da sua psique no fluxo. Essa fé no compromisso, no princípio.


O desalinhamento externo é quando fora está tudo desalinhado e você se sente desalinhado, porque você e o fora não conseguem uma harmonia. Então o desalinhamento externo sempre foi comentado pelos Gurus, particularmente, pelo Guru Gobind Singh, que era uma dinâmica de reestruturação do externo e que causaria muita sensação de deslocamento. Há um deslocamento de várias estruturas externas, porque elas estão se acomodando numa nova dinâmica. O que é necessário para a gente esperar e aguardar essa harmonia entre mim e o externo é manter a mesma fé no fluxo, o mesmo compromisso com os princípios e o tempo. É o que a ajuda a gente a não enlouquecer. Estou falando de tudo, do país, do mundo. E o tipo de loucura que se instala na gente quando a gente vive esse tipo de desalinhamento é a ansiedade e a depressão, são os adoecimentos mentais mais comuns.


Aqui a gente precisa de tempo. O mesmo tempo que precisei, sete anos, para poder me realinhar. Tempo e compromisso. Quando a gente tem um desalinhamento interno, a gente precisa de muita meditação, muita meditação. A gente precisa desenvolver um olhar que seja um olhar que descobre, que intui, sem necessariamente saber. A gente precisa de meditação e grupo, Sangat, que é onde a gente se realimenta. E um terceiro elemento que é muito necessário, o mesmo que a gente tem de ter para o externo: a paciência. O Yogi Bhajan costumava dizer “patience pays”, paciência vale a pena, porque os grandes processos que vivemos como ser humano e como humanidade desencadeiam rupturas e são longos, e a gente tem uma ansiedade muito grande, a gente tem um ego muito grande, a a gente quer respostas muito imediatas, especialmente se forem aqueles processos internos. Nós não temos a humildade da espera. De modo geral não temos. E o que vocês precisam fazer como professores de Kundalini yoga para apoiar os seus alunos ou seus familiares, seus amigos, é saber que quando o desalinhamento for externo, a esperança ajuda e a presença ajuda para que a pessoa adquira o compromisso com o que ela faz e tenha uma visão cósmica para a situação.


Quando o desalinhamento for interno, a esperança está na presença do outro. Está no outro dizer que é preciso aguardar, as coisas têm um tempo. A paciência e a esperança precisam estar nesse dois processos. Nunca acelere respostas vazias e rasas, nunca acelere o seu aluno. Não menospreze a capacidade que seu aluno tem de resolver o problema, se você estiver presente no apoio. E lembre que toda decisão tomada no desalinhamento é perigosa, elas estão provavelmente erradas. Então quando você toma a decisão de separar, de juntar, de amar, de prometer no desalinhamento, é ruim. Você precisa tomar essas decisões quando as coisas estiverem sob o seu controle.


Vamos fazer um kriya que vai desalinhar a gente bastante.


Aluno: Mas a gente consegue ficar nesse alinhamento? Eu entendi que a gente precisa do desalinhamento. Mas tem algum momento que a gente consegue alinhar, ou a gente está em constante alinhamento e desalinhamento?


GSK: A gente tem essa dinâmica de alinhar e desalinhar. Não estou falando dessa dinâmica que ocorre o tempo todo. Estou falando dos grandes terremotos. Um terremoto social e político, como o que nós estamos vivendo ou um terremoto interno, que é quando parece que você não dá mais conta de nada. Quando você tremeu nas bases.


Aluno: A meditação vai ajudar a gente a se manter, porque a gente entra em ressonância com o externo, por isso que a gente desalinha.


GSK: A gente desalinha quando tem o terremoto externo porque a gente se frustra demais. A história é a frustração e a raiva. São os dois sentimentos que a gente responde ao externo. Claro que a meditação resolve, meditar, fazer Kundalini Yoga resolve. Isso é a base. Não estou imaginando que a gente não esteja fazendo isso, mas a paciência e um olhar cauteloso, para o externo é o que vai ajudar, porque senão a gente se mata, mesmo com Kundalini Yoga. É muita frustração e muita raiva.


Muitas vezes não é fácil saber se o desalinhamento é interno ou externo. Mas se você tem um olhar interno sutil, você sabe que você está amargurada, por exemplo, e frustrada quando você bate o olhar no mundo aí fora e vê o que está acontecendo e isso reflete em você. Ou às vezes você tem uma situação interna, por exemplo uma mãe que adoece e você se dedica demais a ela, a família que passa por uma separação, você sabe que existe alguma coisa do seu mundo está tremendo, aquilo é seu. Agora o pior de tudo é quando isso acontece concomitantemente, lá fora um grande ajuste acontecendo e aqui dentro também. E é aí que a gente fica com dificuldade de identificar se é interno ou externo porque na verdade são as duas coisas. Nos tempos em que vivemos, e em pessoas sensíveis como nós, o desalinhamento e o tremor externo acabam invocando tremores internos. E aí nós precisamos continuar nossa prática, quando for possível, e precisamos ter propósito e compromisso. E paciência. Os encontros mensais que temos nos Gurdwaras é que alimentam a minha paciência, para eu me reenergizar, para eu continuar no meu propósito. Cada um de vocês vai ter de encontrar um lugar, um núcleo coletivo. Isso é muito importante, a medicina brada isso hoje, onde você reforça o propósito.


Não dá para fazer yoga, cuidar de mim, ir para casa e fazer só isso. Nós precisamos do coletivo, de uma comunidade com um propósito, senão a gente sucumbe. É o primeiro elemento na psiquiatria e na medicina mente-corpo que é ressaltado quando a pessoa entra no estado de depressão e ansiedade e de declínio físico. Ainda que seja um grupo de horta orgânica, seja o que for. E a última coisa que quero falar: por seis anos, aos olhos de outras pessoas, minha sadhana era ridícula, eu fazia o mínimo. E qual é o problema? Não entrem com esse ego nesses momentos, façam o que é possível e mantenha a sua mente no fluxo. Mas eu tenho de dizer que evoltei full power! Me aguardem!


Kriya: Preparation for Meditation, do livro Kriya

Meditação: Bij Mantra: Sat Naam, do livro Kriya


A aula que vocês fizeram é profundamente relaxante, se vocês forem dirigir vale a pena dar uma acordada antes. A citação do Yogi Bhajan de hoje diz o seguinte: “pessoas que não têm paciência excelente e absoluta e gratificante tolerância nunca estarão certas.” Então decisões ou nossas avaliações feitas na impaciência ou na paciência parcial, ou na intolerância, serão sempre tendenciosas. Então que bênção a gente viver num mundo em que estamos testemunhando o que a gente está testemunhando, a despeito de toda a dureza. Uma transição espetacular, mas difícil, como toda transição. Eu na minha idiota ingenuidade, quando morava em Berlim nos anos 1990, assistindo à guerra de Sarajevo, via os muçulmanos serem dizimados. Me lembro de assistir aquilo tudo. Me lembrei disso porque o grande general teve sua prisão perpétua decretada. Ele dizimou em 1992, nós estamos em 2017, há 25 anos. Imagine vocês aquelas mães, aqueles pais, aqueles filhos que estão há 25 anos esperando justiça. Quando eu assistia àquilo tudo, eu pensava "ainda bem que eu estou assistindo, eu não estou envolvida". Precisou de 25 anos para eu ter a experiência de estar envolvida na tragédia nossa. Não existe momento em que você não vai ser enlaçado para uma situação completamente que te remete às entranhas. Nós precisamos ter paciência e precisamos ter esse grau de tolerância para a gente poder dar tempo para que os processos se consolidem. A aula de hoje é sobre isso e sobre o sistema glandular, porque é ele que nos faz responder de modo inconsciente e louco. E se você fizerem 11 minutos da meditação que fizemos hoje por semana, vocês já se beneficiam demais.


May the long time sun shine...


[Transcrição Sada Ram Kaur]


May the long...

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