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A nudez de um professor

por Dev Atma Singh


Yogi Bhajan nos deixou instruções muito pragmáticas sobre como deve agir um professor de Kundalini Yoga. Este professor ensina pelo exemplo, pois nessa tradição o que importa é o compromisso com o Nam, uma realidade que só descobrimos mergulhando em nossa realidade interior: trata-se da identidade que nos é dada por Deus ou pelo infinito.


Se o professor ensina pelo exemplo, ser um professor de Kundalini Yoga é indissociável da experiência pessoal e intransferível de cada um em seu caminho. Lemos que o professor serve para ensinar a uma pessoa todas as facetas e os aspectos da vida (“A pureza e o poder do professor”, The Master's Touch) -- que pessoa é esta? É primeiramente aquele que se compromete a praticar dentro de si a sua consciência mais elevada, o seu guru; é aquele que se permite imaginar, visualizar, acreditar, expandir em todas as direções, conectar-se com tudo, enfim, inspirar-se amplamente na corrente sonora de Ang Sang Wahe Guru: “Eu pertenço a Deus com cada membro e com cada parte de mim.”


Lemos também que o professor serve para ensinar alguém a conquistar o estado mental no constrangimento e na confrontação. Ao mesmo tempo que cada membro do meu corpo ou ação do meu ser estão pulsando na consciência universal, comprometer-se com uma consciência mais elevada não se restringe às minhas opiniões pessoais ou à voz do eu. Os processos do eu deixam de ter valor. As experiências de união com o todo que o Yoga nos dá não reservam somente o êxtase e as canções celestiais, mas colocam-nos diante de nossas sombras, convidando-nos à mudança, que nem sempre é confortável.


O professor de Kundalini Yoga sabe que os processos de mudança se dão de forma gradual. Conquistar sabedoria não é de uma hora pra outra. Por isso a compaixão é uma plataforma fundamental para todas as práticas dessa tradição. O professor está sempre pronto a perdoar. Aí entram os percalços de seu próprio caminho: não se tem compaixão por ninguém se não se aprende a ter compaixão por si mesmo. O professor é uma experiência viva. Ele mesmo é uma documentação dos ensinamentos. Ele não é um pregador ou um filósofo.


Chardi Kala é o ajardinamento do professor: espírito elevado, conectado com tudo, deixando passar os turbilhões emocionais. Pronto para agir, pronto para escutar, pronto para servir. Yogi Bhajan nos ensina que toda mulher e todo homem têm o potencial de atingir um estado divino de amor a tudo e a todos. O aluno é um professor de amanhã. Aquele que ensina deve se esforçar para fazê-lo dez vezes mais forte do que aqueles que vieram antes.


O poder que atingimos com essa prática não é sobre prestígio social e olhares de aprovação. O professor de Kundalini Yoga serve em uniforme, “uma forma”, porque ele existe para oferecer o vácuo aos alunos. Ele existe para permitir que todas as coisas se recriem. Quanto mais o professor cresce em sua prática, mais ele deve aprender a servir. Só aqueles que sabem se curvar consideram a excelência.


Por isso o professor relaciona-se com o Nam das pessoas, não com o ego ou com a política. O sucesso do professor não está no que ele sabe ou no que ele diz, mas no que o aluno recebe. O professor existe para elevar aqueles que chegam: crescimento, dignidade e excelência do aluno medem o professor, que treina para ser um receptáculo daquilo que não é nem mulher, nem homem, nem humano, nem eu: a energia criadora e criativa, única e uma através das eras.

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