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A ciência do seva

Publicado em 19 de Julho 2012 por I. J. Singh

Tradução e adaptação de Gurusangat Kaur Khalsa


No dia 8 de julho de 2012, poucos dias atrás, eu estava lendo o caderno de opiniões do New York Times. O título dizia “Não seja condescendente, seja feliz” – “Don’t Indulge Be Happy”. Ocupado com meu café da manhã, não me interessei pelo artigo e pensei que fosse mais uma daquelas psicologias pop que eu tanto conhecia dos turbulentos anos 1960.


Mais tarde, peguei o artigo para ler e sua mensagem bateu direto entre meus olhos – Eu teria dito que o artigo tinha por alvo meu terceiro olho, se tivesse um. O fato é que o conteúdo falou diretamente para os fundamentos de meu dharma.


O artigo foi escrito por dois acadêmicos: Elizabeth Dunn, professora de psicologia da Universidade de British Columbia, e Michael Norton, professor-associado da Harvard Business School. A metodologia da pesquisa parece consistente com as regras da academia, e sua tese certamente abre algumas janelas na mente. Os resultados mostram, de maneira convincente, que “uma vez você tenha atingido um ganho anual de, digamos, 75 mil dólares, ganhar mais não necessariamente ajuda. (Nos tempos atuais? Eu questionei). Eles continuam: “até mesmo crianças se sentem melhor quando compartilham o que têm”. Os resultados deles apontam para o fato de que o dinheiro é essencial, mas depois de um limite razoável, seu excesso ou concessão sem limites não parece ajudar em nada. E se pensar bem, a linha de corte da pesquisa, 75 mil dólares anuais, não é assim algo inalcançável ou coisa de rico. Para mim, dinheiro significa um meio; criticamente importante, mas não um fim em si mesmo.


Por mais estranho que possa parecer, ou até mesmo ilógico, os resultados da pesquisa deixam bem claro que a felicidade foi encontrada mais intensamente, e de forma mais duradoura, em pessoas que gastaram seu dinheiro mais com outros do que consigo mesmas. A pesquisa mostra também que, em lugar de apenas comprar mais, estaremos mais bem servidos se comprarmos menos para nós mesmos e comprarmos mais para os outros. Os pesquisadores esclarecem com os resultados que o excesso de gastos não satisfaz a longo prazo. Isso me fez lembrar da frase do Jaap Ji (oração matinal, Jaap Ji, Guru Granth p.1) que diz “Bhukyaa(n) bhukh na utrae jay banna purya(n) paar…”: nossas “necessidades” são poucas e simples, e nossas “demandas” são infindáveis.


Quando os pesquisadores descobriram que existe mais alegria em compartilhar do que em simplesmente ser complacente com gastos excessivos, eu imediatamente gravito em direção ao alicerce estrutural do estilo de vida do Sikh Dharma: ganhar honestamente seu dinheiro, compartilhar com os outros, e ambos guiados pela consciência da presença do Infinito em nós, e da conectividade que ela permite. Estes são os fundamentos de uma sociedade estável, progressiva e igualitária.


Seva é um conceito do Sikh Dharma (Sikhi) baseado em compartilhar a própria vida com os outros. Seva é doar para os necessitados não só porque precisam, mas sobretudo porque essa ação responde à nossa necessidade interna de compartilhar. Seva é uma necessidade existencial.


No Sikh Dharma, Seva não é uma barganha, e quem a pratica não espera retribuição. É muito comum para nós, seres humanos, reclamar quando o dinheiro não aparece, a despeito de nossas preces. Sim, parece que o ser humano carrega em seu DNA a propensão de esperar pela retribuição imediata de seus bons atos. É por isso que o Guru Granth nos pede para abandonar o ego quando fazemos seva, para que assim a causa se torne maior do que quem se oferece a ela. (Aap gavayay seva karay taa kitch paayay maan…Guru Granth p. 474). Pensamento semelhante ressoa nas palavras de São Francisco de Assis: “dando é que se recebe”.


A busca pela gratificação imediata e o sentimento de que só você merece precisam ser transmutados. Isso é o que o Guru Granth diz, e é exatamente isso que os cientistas estão nos dizendo.


Dunn e Norton são cientistas. O rigor de seu treino para investigar os exime de tender para qualquer religião, credo, costume, tradição ou visão de mundo. Entretanto, seus experimentos e observações trazem a linguagem e a metodologia acadêmicas para o que chamamos, de modo geral, de realidade espiritual.


Ciência e seva! Eles se conhecem. Hoje Dunn e Norton exploram a base racional e cientifica da necessidade fundamental da humanidade se ajudar – seva.


Os fundamentos do Sikh Dharma poderiam ser resumidos em:


1. Nossa felicidade é inversamente proporcional ao tempo que passamos obcecados sobre nossos próprios predicados na vida;


2. Seva não é algo que fazemos; é algo que somos ou nos tornamos, uma vez que seva é um estilo de vida;


3. Seva é a fonte de todo poder e o caminho para elevar a si e a humanidade;


4. Seva nunca é uma transação comercial.


O caminho do descobrimento requer tanto a intuição quanto a lógica, sem as quais a experiência religiosa se reduz ao dogma, à superstição; e a ciência sem alma e sem propósito se reduz ao mecanicismo. Muitos pensam que essas duas grandezas são como duas forças paralelas, que não foram feitas para se encontrar jamais. As coisas estão mudando.



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