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[GSK] Permitindo que nossa natureza emane

Aula ministrada por Gurusangat Kaur Khalsa em 24 de abril de 2020

[GSK abre a aula]

A aula de hoje é como levar o carro para uma limpeza. É uma limpeza de lixos que estão acumulando nos nossos corpos de luz por conta do pesado processamento emocional que os tempos nos impõem.

A maioria esmagadora das pessoas não sabe conviver bem com o paradoxo ou com tudo fora do lugar – e tampouco sabemos que lugar é esse. Assim, acaba produzindo e mandando para o campo uma quantidade muito grande de detrito emocional. Esses detritos criam uma frequência bastante pesada. O que faremos hoje é limpar os nossos corpos de luz de detritos, tanto os nossos, quanto aqueles que eventualmente tenhamos captado do meio.

Nós, yogis, também estamos sofrendo. Os tempos são bastante desafiadores. Isso não quer dizer que não estejamos bem ou não possamos ficar bem. Compreendemos teoricamente os ensinamentos do Kundalini Yoga por muitos e muitos anos. Alguns de vocês estão aqui desde quando apareci, em 96. Tudo isso tinha sido explicado e desenhado para nós. Já temos esse mapa mental, já o aprendemos. Trata-se de um momento extremamente auspicioso, excitante até, de como aplicamos isso. Parece que, agora, viveremos efetivamente essas coisas.

E funciona assim: alguns dias dá certo e a maioria dos dias dá errado. É o começo, é o treinamento. Às vezes entramos com uma expectativa de que temos que fazer certo o tempo todo, mas o aprendizado, na prática, tem suas particularidades. Ainda somos criaturas que aprendem muito mais com nossos erros do que com nossos mapas mentais. Os mapas são orientações bem largas, mas, na prática, toda teoria é diferente. Estamos aqui, passando por isso juntos.

Hoje a aula tem dois momentos completamente distintos. Um primeiro momento, em que faremos a limpeza, é muito contemplativo e com poses longas. No segundo momento vamos acelerar o reassentamento do prana nesses lugares que foram limpos.

Kriya: Limpando seu lixo

Essa aula de hoje não requer uma meditação depois, porque sua primeira parte é muito meditativa. Não gostaria de colocar mais informação no nosso sistema.

Kundalini Yoga não trabalha com mindfulness apenas. Mindfulness é somente a base do trabalho. Fazemos mindfulness quando terminamos uma pose e entramos num estado chamado metapercepção. Quando chegamos no final de uma aula já trabalhamos muito esse estado da mente que integra partes e desintegra ao mesmo tempo. No Kundalini Yoga a meditação não tem unicamente o objetivo de nos zerar e deixar presentes. Ela induz um estado neuro-hormonal particular. Aqui, meditar é ativar. Não é um movimento passivo.

Esse processo de integrar o que fizemos em um kriya pode durar dias. Hoje ativamos muita coisa. Foi um trabalho muito sutil. Primeiro fizemos uma limpeza, depois preenchemos com prana os canais que foram limpos – especialmente do s seis corpos de luz. Esse prana tem uma conexão com nossa capacidade de comunicar, não necessariamente pela via verbal. O trabalho de hoje foi para que a nossa presença comunique.

Gostaria que experimentassem isso até o nosso próximo encontro: ao se colocarem em uma situação em meio a outras pessoas, ou com vocês mesmos, que a sua presença comunique. Não tem nada a ver com estarem sempre sorrindo ou sempre felizes. Podemos estar muito mal, em dor, com aqueles sentimentos naturais de raiva e frustração. Contudo, há um lugar em que estamos resgatados na nossa consciência, no nosso ser superior, nesse ser de luz. Aí, nos assentamos em meio ao turbilhão e a nossa presença faz com que o turbilhão vá sendo processado lentamente. Não é nada verbal, é uma presença.

Este é um exercício muito particular e sofisticado, que no Sat Nam Rasayan tem o nome de emanação. É quando nem intencionamos projetar, simplesmente somos. Não podemos negar as emoções ruins, senão nos tornamos fake. Viramos um balão, que vai subir e se elevar de modo artificial e, no primeiro espinho, vai explodir e cair no chão. Não precisamos estar o tempo todo elevados, isso seria falso. Há momentos em que estamos encalacrados. E quando estivermos nessa situação, aprisionados nesse desconforto, emanamos.

Quando mediamos a nossa emanação pelo conforto estamos bem longe de conhecer esse princípio nosso que se sente confortável com o caos. Há alguma coisa em nós que é acostumada com isso. Afinal de contas, somos gerados como bebês no caos. Mas, claro, somos criaturas que evitam a dor. Temos um mecanismo automático de evitar a dor.

Quando nós, yogis, nos sentimos desconfortáveis e tentamos nos convencer que estamos confortáveis, é uma falácia muito arriscada. É melhor reconhecermos e permitirmos que há desconforto. Assim não tem outra saída. Não podemos ficar mais desconfortáveis, e chega um ponto em que o desconforto acaba. É igual a qualquer ciclo. Há uma virtuosidade e uma não virtuosidade do ciclo, mas não precisamos nos integrar à tamanha dependência do meio. Portanto, quando nos sentirmos desconfortáveis, perdidos, insanos, devemos não negar e, ao mesmo tempo, buscar o lugar onde nos assentamos e apenas emanamos.

Num Gurdwara, quando o Guru está em prakash (deitado), ele está emanando.

Ninguém pede para aquela poesia emanar luz verde, azul ou rosa. O poema emana da sua própria natureza. Também nós podemos emanar da nossa própria natureza. É um estado em que simplesmente permanecemos, permitindo que essa natureza comece a emanar. Assentamos com os ísquios no chão, a coluna ereta, o queixo numa ligeira Jalandhara bandha, com as mãos sobre as pernas. Os ísquios têm uma conexão sutil imediata com a hipófise e, instantaneamente, entramos na nossa natureza de alma. Existe um silêncio, uma estrutura, que fala por nós. Essa estrutura não tem sentimento algum – sentimentos são da instância do ego. Na alma não há sentimentos, há apenas um estar e um ser.

May the long time sun shine upon you…

[Transcrição: Himat Sevak Singh]

[Edição: Nav Amrita Kaur]

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