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[GSK] A tecnologia espiritual do turbante

por Gurusangat Kaur Khalsa


Minhas primeiras aulas de Kundalini Yoga foram em Berlim. Eu tinha que pegar o metrô e, depois, um ônibus para chegar ao Kundalini Yoga Zentrum - Sikh Dharma. Eu fazia aulas às quintas-feiras, às 18h30, e, no verão, costumava, em lugar do metrô, usar minha bicicleta pelas ruas de Kreuzberg. Nunca vou me esquecer do sentimento dentro de mim e de meu estado de espírito quando voltava para casa depois daquelas aulas. Não dá muito para colocar em palavras, mas, talvez o que mais se aproxima seja algo como “leveza e paz”.


Um dia resolvi cobrir minha cabeça para fazer aula. Eu via sempre meus professores de turbante ou usando um lenço para cobrir suas cabeças. Nunca ninguém havia me dito que alunos não podiam usar turbante, assim como professor algum havia dito que, se quiséssemos cobrir a cabeça, eles poderiam nos ajudar dando dicas.


Vasculhei o que tinha em casa que poderia servir ao meu intuito, mas só achava echarpes. Foi assim, então, que fiz meu primeiro turbante: uma longa echarpe amarela que enrolei de forma precária na minha cabeça.


Ao entrar na sala de aula naquela noite, não houve um alemão da minha turma que tivesse sequer olhado para mim de forma diferente. Eu ainda não sei se eles nem ligaram ou se acharam que seria uma intromissão inadmissível no meu direito de viver como eu bem entendesse. Mas a professora reagiu muito diferente dos meus colegas. Ela me deu um sorriso grande e me disse para observar como seria a aula daquela noite.


Desde aquele dia jamais fiz uma aula de Kundalini Yoga sem meu turbante.


Mas, qual será mesmo a razão que faz com que o turbante seja um acessório tão especial?


O topo da cabeça, exatamente onde os bebes têm uma área maleável – a fontanela –, é denominado como “décimo portal”. Em termos yóguico, é também conhecido por chakra da coroa, o sétimo centro de projeção de energia da consciência. Milhares de anos atrás, yogis e pessoas na busca da experiência espiritual descobriram que o cabelo no topo da cabeça protegia o décimo portal do sol e de outras exposições. Além disto, descobriram também que o cabelo funcionava como antenas, absorvendo e canalizando a energia do sol para dentro do corpo e do cérebro. Para ampliar o efeito e dirigir a energia radiante para o propósito espiritual, as pessoas enrolavam seus longos cabelos justamente sobre esta região sensível de nossa cabeça, também denominada como Centro Solar do Crânio.


Em homens, este centro encontra-se deslocado mais à frente, em direção à testa. Mulheres têm dois centros solares: um, bem no centro do sétimo chakra, e outro, mais atrás, posterior à fontanela. Para homens e mulheres, fazer um coque e prender os cabelos sobre estes centros solares ajudam a canalizar a energia para o alto, em direção ao centro do cérebro e da consciência, auxiliando também a reter a vibração de altas frequências e espalhá-las pelo corpo todo.


Uma outra consequência de cobrir estes centros é a potencialização que ocorre com a energia vital, resultando no fortalecimento neuromuscular em quase 200%, como os testes de resistência muscular mostram.


O coque que fazemos com nossos cabelos tem um nome: jura ou nó de Rishi. Ou seja, é o estilo de cabelo dos antigos yogis e sacerdotes. A jura ajuda a controlar e a movimentar a energia vital durante a meditação e os exercícios, aumentando a concentração e o foco. Os Mestres Sikhs compartilharam tanto a tecnologia do turbante quanto as do longos cabelos com todos, indiscriminadamente, para que não apenas aqueles da casta de sacerdotes pudessem usufruir de seus efeitos. Sendo assim, eles queriam garantir que pessoas comuns pudessem desenvolver também “a mesma capacidade de um Rishi”, como diz Guruka Singh no livro Heroes, saints and yogis – tales of self discovery and the path of Sikh Dharma.


O turbante, quando colocado em suas várias camadas sobre o crânio, tem um efeito muito particular. O turbante age de modo a ajustar os ossos cranianos em todas as suas fissuras, contribuindo para uma expansão da projeção, calma e relaxamento. O turbante cobre as têmporas, o que pode ajudar a proteger contra negatividade mental ou psíquica. A pressão do turbante em determinados pontos sobre a cabeça também altera o padrão de fluxo sanguíneo no cérebro, o que aumenta a clareza mental e uma disposição para encarar qualquer desafio.


Para um professor de Kundalini Yoga, Yogi Bhajan recomendava que cobrisse a cabeça, se possível, com um turbante. Além dos benefícios acima descritos, o turbante, neste caso, confere nobreza e neutralidade ao professor e ajuda o aluno a sentir-se amparado e suprido na projeção divina do professor.


Para um praticante do Sikh Dharma, o turbante tem uma importância ainda maior. A história prova que cortar os cabelos sempre esteve associado à formas brutais de conquista de um povo sobre outro. Os conquistadores faziam dos conquistados escravos cortando-lhes os cabelos. No Sikh Dharma, não há mestres nem escravos. Cada pessoa deve viver na sua maior excelência e dedicar sua vida a construir um mundo na excelência, no qual todos os seres possam viver em paz e dignamente.


O turbante para um Sikh é um símbolo de soberania, nobreza e divindade. A Energia Divina que governa o universo e guia nossas vidas é muitas vezes desconhecida por muitos. Tentar viver se lembrando que esta Energia está dentro de nós e dentro de toda a criação nos permite experimentar nosso potencial maior e nos ajuda a respeitar tudo e todos. Cobrir a cabeça para uma pessoa do Dharma é um ato de aceitação da existência de algo maior do que ela mesma e, portanto, é um ato de humildade na entrega de si a esta Força.


Usar o turbante todos os dias para um Sikh é uma declaração: nossa cabeça, nossa mente, está dedicada ao Divino em nós e em tudo. O turbante torna-se assim a coroa da realeza espiritual.


Esta é a história do turbante e de como esta tecnologia do Sikh Dharma foi tomada emprestada pelo Kundalini Yoga para ajudar o professor no trabalho de sala de aula e ajudá-lo a manter a frequência elevada com este paramento sagrado da Casa Real do Guru Ram Das!


Wahe Guru, Sat Nam!


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